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Importante cómoda estilo Luís XVI


Estimativa

2.400 - 4.000


Sessão 1

2 Junho 2022



Descrição

Segundo modelo de Jean-François Leleu
Faixeada a pau-rosa e pau-roxo, com aplicações em bronze dourado
Com três gavetões e tampo em mármore branco
Decorada com frisos de enrolamentos vegetalistas em bronze dourado e assente sobre quatro pés em forma de balaústre
França, séc. XIX

86x160x65 cm


Categoria

Mobiliário


CÓMODA SEGUNDO MODELO DE JEAN-FRANÇOIS LELEU (1729-1807)

A cómoda que agora trazemos a leilão foi produzida nos finais do século XIX e segue o modelo da realizada pelo ebanista Jean-François Leleu (1729-1807) na década de 1770-1780. Essa peça que se encontra nas colecções do Château de Versailles é mencionada pela primeira vez no inventário, datado de 1796, do apartamento de Jean-François Rewbell (1747-1807) do palácio do Luxemburgo. Nos inventários de 1807 a 1816 é encontrada no quarto do 2º andar do Pavillon de Flore do Palácio das Tulherias em Paris, pelo que traz as marcas de inventário do Palácio das Tulherias sob o Império de Napoleão I e depois da Restauração. No ano de 1855, já sob o império de Napoleão III é inventariado pelo na Garde-Meuble, e anos depois (em 1867) entra no Petit Trianon por ocasião da exposição organizada sobre a vida da Rainha Maria Antonieta. Tocada pelo trágico destino desta Rainha, a imperatriz Eugénia de Montijo (1826-1920) decidiu recuperar o palácio do Petit Trianon, através do restauro dos jardins e dos seus pequenos edifícios, e remodelou o pequeno palácio o mais próximo possível da aparência que se pensava ter tido quando a Rainha Maria Antonieta o habitou. Para tal foi constituída uma comissão, presidida pelo general Comte Lepic (ajudante de campo do Imperador Napoleão III e diretor dos palácios imperiais), com o objectivo de localizar e selecionar os móveis, objetos de arte e lembranças pessoais da Rainha nas coleções do Estado e nas coleções particulares. A abertura da exposição coincidiu com a abertura da segunda Feira Mundial de Paris em 1867 e os convidados do casal imperial não deixaram de visitar o Trianon. Anos mais tarde, em 1882, a cómoda foi exibida em Paris na retrospectiva da Exposition de l'Union centrale des arts décoratifs. Foi através desta exposição que o modelo desta cómoda se tornou apelativo aos marceneiros do século XIX/XX tornando-se num dos mais reconhecidos modelos do século XVIII replicados por ebanistas como Antoine Krieger, Paul Sormani e François Linke. No século XVIII Jean-François Leleu foi aluno e posteriormente, juntamente com o seu rival Jean-Henri Riesener (1734-1808), colaborador do ebanista Jean-François Oeben (1721-1763). No ano de 1763, com a morte do mestre tornou-se no principal responsável da oficina e no ano seguinte foi elevado a mestre ébéniste. Leleu teve o patrocínio de aristocratas como o príncipe de Condé, Louis-Joseph de Bourbon (1836- 1818) e a Madame du Barry (1743-1793). A sua obra pode ser dividida em dois estilos simultâneos, mas distintos: um primeiro que segue as directrizes do legado de Oeben, caracterizado pelas formas sólidas, de estilo mais nobre. E um segundo, de estilo mais simples, mas de linhas definidas como o primeiro, sendo um exercício de elegância e eufemismo. É por este segundo estilo que Leleu é principalmente lembrado e do qual a cômoda atual, com sua forma levemente bombé e montagens de friso contidas, é o principal exemplo. Na cidade de Paris da década de 1860, registou-se um aumento de artífices de mobiliário, sendo cerca de 2,000 os ebanistas que se ocupavam da produção de mobiliário de luxo. Um número que contrastava com os cerca de 14,500 artífices que se ocupavam da produção de mobiliário de menor qualidade. Os ebanistas encontravamse entre os artífices privilegiados, tendo a seu cargo a elaboração de móveis de excelente qualidade destinados, normalmente, para a casa imperial francesa e demais casas reais europeias. Os seus espaços de labor eram pequenas oficinas, localizadas nas traseiras das suas lojas. Os restantes marceneiros produziam directamente para lojas ou fábricas, passando a maior parte da sua carreira a executar os mesmos modelos repetidamente sendo a ausência de criatividade e a monotonia do trabalho notórias neste abrangente núcleo de artífices.

Tiago Franco Rodrigues

Bibliografia: Christopher Payne, 19th Century European Furniture, Antique Collectors´Club, 1985 Pierre Verlet, Les ébénistes du XVIII siècle français, Paris: Hachette, 1963. Pierre Verlet, Les meubles français du XVIII siècle, 2º edição. Paris: Presses Universitaire de France, 1982. Pierre Verlet, Michael Bullock, French royal furniture: an historical survey followed by a study of forty pieces preserved in Great Britain and the United States. London: Barrin and Rockliff, 1963 Pierre Verlet e René Wittman WITTMAN, Le mobilier royal français: meubles de la couronne conserves en France Avec une etude sur le gardemeuble de la Couronne, Paris: Edition Plon, 1955



Leilão Terminado