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François Linke, Attrib. (1855-1946)


Estimativa

15.000 - 25.000


Sessão 1

13 Outubro 2020



Descrição

Mesa de chá
Em madeira faixeada a pau-rosa
Decorada com trabalho de parqueteria e aplicações em bronze dourado, moldado e cinzelado segundo desenho de Leon Message
Com dois tampos circulares recortados
Tampo superior composto por tabuleiro amovível, em vidro e bronze dourado, suportado por quatro putti com caudas de tritão
Tampo inferior decorado com trabalho de parqueteria descrevendo padrão geométrico com losangos
Saial recortado e pernas galhadas com aplicações em bronze dourado representando folhas de acanto e concheados
Pés revestidos por sapatas em bronze
Aplicações em bronze no saial assinadas "FL" no verso
França, c. 1900

92x79x71 cm


Categoria

Mobiliário


O MOBILIÁRIO DO SÉCULO XIX

A segunda metade do século XIX é, indiscutivelmente, o período em que as artes decorativas refletem o gosto pelo revivalismo, pela fusão de estilos e pelo colecionismo. Numa época em que a sociedade oitocentista vivia de olhos postos no passado, os grandes mestres dos séculos anteriores foram reinterpretados pelos artistas, justificando-se o aparecimento de cópias e réplicas que na contemporaneidade eram entendidas como verdadeiras obras de arte. A glória dos tempos áureos de Versalhes renascia nas artes decorativas e em particular no mobiliário, sendo este inspirado nas linhas artísticas que vigoraram nos reinados de Luís XIV, Luís XV e Luís XVI, valorizando o trabalho dos grandes ebanistas como André-Charles Boulle (1642- 1732), Jean-François Oeben (1721-1763) ou Jean-Henri Riesener (1734 - 1806).
Na década de 1860, na cidade de Paris, registava-se um aumento de artífices de mobiliário, sendo cerca de 2,000 os ebanistas que se ocupavam da produção de mobiliário de luxo. Um número que contrastava com os cerca de 14,500 artífices que se ocupavam da produção de mobiliário de menor qualidade. Os ebanistas encontravam-se entre os artífices privilegiados de Paris, tendo a seu cargo a elaboração de móveis de excelente qualidade destinados, normalmente, para a casa imperial francesa e demais casas reais europeias. As duas mesas de chá que agora apresentamos para leilão apresentam uma elevada qualidade artística e uma execução tecnicamente irrepreensível que evidenciam o trabalho de dois artistas deste tempo, sendo exemplo de dois exímios artistas Paul Sormani (1817-1877) e François Linke (1855-1946).

Bibliografia:
PAYNE, Christopher, 19thCentury European Furniture, Antique Collectors ́Club 1985;
RODRIGUES, Tiago, The furniture of Maison Krieger at art auction: A fine vitrine in Louis XV style sold by Veritas at Lisbon, ArtisOn, no5, Lisboa, ARTIS-IHA/FLUL, 2017;
VERLET, Pierre, Le mobilier royal français du XVIIIe siècle. IV – Meubles de la Couronne conservés en Europe et aux États-Unis, Paris, Editions Picard, 1990;
VERLET, Pierre, Les ébénistes du XVIII siècle français, Paris, Hachette, 1963;
VERLET, Pierre, Les meubles français du XVIII siècle, 2o edição, Paris, Presses Universitaire de France, 1982.

François Linke (1855-1946)

François Linke nasceu em Junho de 1855 em Pankraz na Boémia. Após um período de formação com um marceneiro local, viajou por Praga, Budapeste e Veimar como assalariado (1873-1878). Só em 1881, depois de ter trabalho nos ateliers de mestres alemães, é que abriu a sua própria oficina na artéria dos marceneiros de Paris (Rue du Faubourg- Sainte-Antoine). Numa época em que havia muita concorrência na capital francesa, o seu percurso não foi fácil. Durante as duas primeiras décadas sobreviveu através da venda do seu mobiliário a outros marceneiros como Jason e Krieger.
Mas, no ano de 1900 tudo isso mudou quando participou na exposição Universal de Paris. Nessa mesma exposição trabalhou em parceria com Léon Messagé e apresentou dezasseis peças das quais se destaca o Grand Bureau (com o qual ganhou uma medalha de ouro), uma Grande Bibliothèque, bem como um móvel de aparato e um relógio de caixa alta, (estes dois encontram-se na Colecção da Casa-Museu Medeiros e Almeida em Lisboa).
Para os observadores contemporâneos o seu expositor era revigorante, sobressaindo entre o dos outros ebanistas (que apresentavam peças com linhas tradicionais inspiradas nos estilos do século XVIII).
As suas peças apresentavam uma simbiose entre as linhas tradicionais e a, ainda pouco conhecida, Arte Nova, o que permitiu que o seu estilo artístico fosse considerado “entièrement nouveaux”. Também Charles Dambreuse, um dos críticos que assistiu à exposição, diria: “L’Exposition de la maison Linke est le gros événement de l’histoire du meuble d’art en l’an de grâce 1900”.
Esses dezasseis peças foram fruto de um investimento de muitas horas de trabalho e de uma grande aposta de Linke no seu futuro – já que toda a produção correu a seu cargo sem ter nenhuma encomenda prévia em previsão de vendas – o que o poderia ter levado à falência. O risco valeu a pena e o reconhecimento e a visibilidade que adquiriu na feira proporcionou-lhe um considerável número de encomendas, o que lhe permitiu abrir, no ano de 1903, uma sala permanente na Place Vendôme. A partir desse momento a sua carteira de clientes diversificou-se e, como anotou nos seus diários, tanto membros da realeza (a título de exemplo, o Rei da Suécia, o Rei da Bélgica, o Príncipe Radziwill e o Rei do Egito) como figuras políticas (Ex. Émile Loubet), passando pelos milionários norte americanos e por ilustres fabricantes, visitaram as suas exposições e adquiriram-lhe peças.
De seguida participou noutras feiras internacionais como a Exposição de St. Louis em 1904 (onde ganhou outra medalha de ouro) e a exposição Franco-britânica (1908), em Londres. Onde supomos que terá recebido a visita de algum membro da casa real inglesa, pois existe uma cómoda da sua autoria na coleção real, que no ano de 1914 já estava na sala das tapeçarias do Palácio de Buckingham, e que em 1934 serviu de pano de fundo para uma serie de fotografias oficiais do Rei George V, da Rainha Mary e do Príncipe de Gales (o futuro Rei Edward VIII, depois Duque de Windsor).
Após a Primeira Guerra Mundial, François Linke assumiu a extraordinária encomenda de mobiliar o Palácio Ras al-Tin em Alexandria para o Rei Fuad
I do Egito (1868-1936), possivelmente a maior encomenda de móveis já concebida, eclipsando até a do Palácio de Versalhes no século XVIII.
Com sua reputação estabelecida, La Maison Linke tornou-se numa distinta casa de mobiliário até ao início da Segunda Guerra Mundial, sendo de
frisar que o brilhantismo técnico de seu trabalho e a mudança artística que representou nunca se repetiram na história do mobiliário.
No ano de 1906 foi nomeado Chevalier de l’Ordre de la Légion d’Honneur,
a mais alta distinção francesa e sabe-se que continuou a responder a encomendas nacionais e internacionais até a cidade de Paris ter sido ocupada pelos Nazis, em 1940.
François Linke faleceu em Maio de 1946 a poucos dias de completar 91 anos.

Léon Messagé (1842-1901)

Nas últimas décadas do século XIX, Linke estabeleceu uma produtiva colaboração com o escultor, bronzista e desenhador Léon Messagé (1842- 1901). O sucesso de Linke, que ficou conhecido como o mais importante fabricante de mobiliário da Belle Époque, reside na originalidade dos desenhos, bem como na grande qualidade do trabalho das suas peças, sendo segundo Christopher Payne “...o marceneiro mais procurado dos finais do século XIX e inícios do século XX”.
Sobre Léon Messagé sabe-se que nasceu na Borgonha em 1842, e que aos vinte anos se encontrava em Paris a trabalhar como escultor e desenhador de mobiliário, de pratas e de outros objectos decorativos. Nessa altura colaborava com marceneiros como Roux et Brunet e Joseph Emmanuel Zwiener, e o facto de reservar o direito sobre os seus modelos, permitiu-lhe o uso e a adaptação em peças de diferentes autores.
Em 1890, Messagé publicou o livro, Cahier des Dessins et Croquis Style Louis XV, onde reuniu 36 desenhos de móveis, pratas e outros objetos. Salienta-se que os bronzes da mesa de chá que agora apresentamos em leilão são semelhanças com os desenhos que Messagé publicou nesse mesmo livro.




Leilão Terminado