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Caixa Cingalesa
Estimativa
45.000 - 60.000
Sessão 4
14 Dezembro 2021
Valor de Martelo
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Em marfim e prata dourada
Com profusa decoração esculpida em baixo relevo, representando figuras, criaturas mitológicas e enrolamentos vegetalistas
Terminal da tampa e base com decoração esculpida representando flor de lotus
Fecho com decoração relevada representando motivos florais
Siri Lanka, possivelmente Kandy, séc. XVI/XVII
Exemplar semelhante vendido na Sotheby’s, em 2017, Sale L17223, lote 179
Alt.: 11 cm
Categoria
Objectos
Nota adicional
A Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC) foi fundada em 1602 e ao confrontar esta caixa com outras muito semelhantes podemos considerar que estamos perante uma peça que foi adquirida após esta data por um consumidor holandês. De acordo com os estudos de Amin Jeffer estamos perante uma peça de forma e design cingalês, que terá sido elaborada e meticulosamente trabalhada por um artesão especializado em marfim (Jaffer 2002, pp. 52–53). No início da sociedade cingalesa, o entalhador de marfim ocupava uma posição importante, atingindo o estatuto de mestre assim como os melhores ourives, prateiros e pintores. O escultor de marfim era um artesão multifacetado e por isso pertencia a uma elite social – attakatayatkarãyõ – e a execução meticulosa desta peça reflete a perícia do artesão. As ferragens decorativas em prata dourada, que funcionam como dobradiças na frente e atrás, são ornamentadas com distintas flores estilizadas que imitam as flores do Templo ou das árvores nativas do Sri Lanka – Araliyã – onde essas flores perfumadas são usadas como oferendas ao Buda. A tampa basculante em forma de cúpula é composta por um florão de lótus finamente esculpido em botão Segundo os estudos de Jaffer caixas semelhantes a esta era utilizada na cultura cingalesa para rituais religiosos (Jaffer, 2002, pp.52-53). Por sua vez, para o ex-proprietário holandês, eeste era um objecto de luxo caro e importado da Ásia, talvez destinado a armazenar joias e outros itens preciosos, e orgulhosamente exibidos nos gabinetes de curiosidades (Swan 2021, pp.91-97). Tanto o recipiente como a tampa foram esculpidas a partir de um único pedaço de marfim (a secção central de uma única presa). Toda a superfície exibe uma decoração tipicamente de Kandy, onde é possível identificar entre um denso padrão folhagens, videiras, folhagens e arabescos divindades míticas. A base é circunscrita por um pequeno friso. Num exemplar muito semelhante encontramos esta zona decorada com a representação de flores de lótus – uma flor associada ao Buda e que simboliza a pureza, o despertar da vida universal e espiritual. Entre as ranhuras dessas pétalas são detectados ligeiros traços de laca preta ( um pigmento característico dos objectos de rituais budistas, em especial as asas dos leques esculpidos em marfim e coloridos com laca, reservados aos monges budistas, o que nos ajuda a confirmar que esta tipologia de peça é de uso religioso. (Jordan Gschwend e Beltz 2010, p.79, cat.25). Na zona em que as ferragens se unem ao marfim, são visíveis no meio de elementos vegetalistas, dois cães-leões (ragasimha). Este é o ancestral leão mitológicos dos cingaleses, e o mesmo significa majestade e poder, pelo que são símbolo dos reis do Ceilão. Na mesma secção podemos observar, entre os elementos vegetalistas uma meia-figura nua, que é a tradicional Narilata-wela (símbolo da beleza e da graciosidade). Esta decoração repete-se no lado contrário. A superfície da tampa, primorosamente esculpida apresenta uma justaposição complexa e estilizada de pétalas de lótus no meio da vegetação exuberante estão representadas vidalas (criaturas míticas parte leão, parte grifo) A tampa primorosamente esculpida apresenta uma justaposição complexa de pétalas de lótus estilizadas, com a deusa Rati (deusa Hindu do amor, da paixão e da luxúria) cercada por três de suas cinco acompanhantes, duas das quais com as pernas entrelaçadas para servir de veículo. Conhecem-se mais três caixas idênticas a esta que podem ser comparadas em termos de qualidade, estilo, execução e iconografia. Duas estão no Museum für Asiatische em Berlim, sendo que uma delas encontrase registada pela primeira vez no inventário de 1694 do Gabinete de curiosidades do Eleitor de Brandemburgo Frederik Wihelm (1620-1688). Uma outra, proveniente da colecção do Comandante Sir Robert Micklem CBE (1891-1952) foi vendida num leilão da Sothebys em outubro de 2017.
Este texto foi publicado com a autorização de Exma. Senhora Professora Doutora Annemarie Jordan, a quem agradecemos a colaboração.
Bibliografia: Coomaraswamy, A. K. – Medieval Sinhalese Art: being a monograph an medieval Sinhalese arts and crafts, mainly as surviving in the eighteenth century, with an account of the structure of society and the status of the craftsmen, New York, Pantheon Books 1956, p.55. Jaffer, A. – Luxury Goods from India: The art of the Indian Cabinet-Maker, Londres, V&APublications, 2002, pp.52-53. Jordan Gschwend, A & Beltz, J. -Elfenbeine aus Ceylon, Museum Rietberg, 2010, p.79 Swan C. r+Rarities of these lands. Art, Trade and Diplomacy in the Dutch Republic, Princeton, Princeton University Press, 2021, pp.91-97. Topsfield, a., Ed. – In the Realm of Gods and Kings: Arts of India, Philip Wilson Publishers, Londres, 2004.
Leilão Terminado