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Adaga


Estimativa

20.000 - 30.000


Sessão 2

25 Junho 2020



Descrição

Com punho em marfim de morsa com quarenta e seis rubis e montagens em ouro
Lamina em aço damasquino
Índia, séc. XVII

33 cm


Categoria

Armas


Informação Adicional

Muito antes da chegada dos portugueses ao Ceilão, já a corte de Mughal era uma consumidora de acessórios femininos e objetos de guerra, concebidos para imperadores e membros da corte com materiais exóticos. A enorme quantidade deste tipo de objectos na corte de Mughal é justificada pela presença de minas de diamantes na região de Golconda, de rubis e de safiras na de Caxemira (uma área que se estende até à Birmânia) bem como pelo comércio de safiras e de esmeraldas do Ceilão e da América do Sul.
Em simultâneo, as pedras semi-preciosas, como a jade (com cores variadas) e o cristal de rocha, eram trabalhadas e adornadas com decorações incrustadas em ouro e pedras preciosas.
A importância deste centro de produção no subcontinente indiano, e a possibilidade de poder recorrer a técnicas e mão-de-obra de outras regiões foram fundamentais para o desenvolvimento das chamadas “jóias de Goa”.
A partir do ano de 1506, a presença portuguesa no Ceilão, contribui para o reforço da sua posição como um importante porto comercial. Geograficamente próximo ao subcontinente indiano, o Ceilão não serviu apenas de base estratégica para a navegação portuguesa, mas também como porto para o comércio das suas riquezas e matérias-primas, como especiarias, madeiras exóticas e pedras preciosas que até então chegavam à Europa em pequenas quantidades e por terra.
No século XVI os cingaleses ofereceram um grande número de magníficos presentes à Corte portuguesa. Os mesmos foram colecionados e distribuídos pelas Cortes europeias, através das ofertas que a Rainha D. Catarina da Áustria (1507-1578), esposa do Rei D. João III (1502-1557), fazia aos seus familiares. Rapidamente, a enorme requisição por parte das várias Cortes europeias incentivou a produção destes objetos que se tornaram parte integrante do chamado mercado de exportação, contribuindo para o desenvolvimento de Goa como um importante centro de produção no final do século XVI.
A degradação das relações entre Portugal e os reinos locais e a chegada dos holandeses em meados do século XVII, cooperaram para o rápido e exponencial desenvolvimento de Goa como um autónomo centro de produção. Os artesãos de Goa acabaram por assumir a produção anteriormente sediada no Ceilão, estendendo-a por todo o século XVII e os objetos eram frequentemente decorados e montados em Goa em filigrana de prata ou de ouro.
A decoração simples e contida, que observamos no punho desta adaga, confere-lhe grande dignidade, e coloca-a como um excelente exemplo da arte indiana do século XVII, provavelmente produzida para um cliente das Cortes da Índia de Mughal. Esta peça apresenta uma lâmina de aço damasquino, e um punho em marfim de morsa decorado com rubis.
O marfim marítimo, proveniente de presas de morsas (Odobenus rosmarus), chegava à Índia pelas rotas comerciais siberianas, e era considerado de qualidade superior, em relação ao marfim de elefante, sendo mais resistente e permitindo acabamentos mais delicados. Antes de ser trabalhado era submerso numa masala – uma mistura de duas ou mais ervas – onde repousava por um tempo minino de 50 anos até ser trabalhado.
Incrustado no marfim de morsa, o punho desta peça apresenta uma decoração constituída por duas rosetas de seis pétalas em rubis montados em ouro. Este tipo de decoração é uma variação da técnica indiana Kundan, que costumamos ver em objetos de pedra esculpida (como a jade e o cristal rocha).
Em suma, a união destas duas técnicas permitem situar cronologicamente e geograficamente a sua produção.

Bibliografia:
PAUL, E., Jaiwant, Arms and Armour. Traditional Weapons of India, Lustre Press, Roli Books, 2006.
Rituais de Poder. Armas Orientais. Coleção de Jorge Caravana, Caleidoscópio, Edição e Artes Gráficas, Portugal, 2010. — Splendeur des Armes Orientales, ACTE – EXPO, Paris, 1988.



Leilão Terminado