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Ventó


Estimativa

80.000 - 100.000


Sessão 2

29 Maio 2019



Descrição

Madeiras exóticas, tartaruga e marfim; ferragens de prata
Ceilão, possivelmente Galle
Séc. XVII (segunda metade)

16,5x17x24 cm


Categoria

Objectos


Informação Adicional

Caixa-escritório ou ventó construído em madeiras exóticas com painéis de tartaruga (provavelmente da tartaruga-de-escamas ou Eretmochelys imbricata), molduras de marfim e ferragens de prata. De forma paralelepipédica, este ventó apresenta uma única porta na frente que abre para a direita. Tal como sucede com alguns outros exemplares conhecidos desta rara produção cingalesa, as placas translúcidas da tartaruga assentam sobre papel pintado de amarelo ou dourado para que a luz possa reflectir por baixo do seu rico padrão mosqueado. As ricas ferragens de prata deste ventó incluem as duas dobradiças da porta, cantoneiras, o grande espelho de fechadura de recorte polilobado e vazado que se estende desde a frente à ilharga esquerda, travessões igualmente recortados e vazados que decoram as arestas das placas trapezoidais de tartaruga que formam a decoração das faces exteriores, larga pregaria repuxada que pontua os pontos médios da decoração a tartaruga, ajudando a fixar as placas, e uma pega na face superior, produzida por fundição, com os terminais em forma de serapendiya (ou gurulu-pakshaya, ave que comanda as serpentes), iconografia que remete para a protecção sobrenatural, que aqui se deverá à função deste ventó enquanto móvel de conter e proteger objectos preciosos ou valores. À semelhança da decoração floral característica das artes da prata cingalesas que pontua nestas ferragens, o corpo da asa é finamente cinzelado. De notar é o fundo puncionado em “ovas de peixe” do espelho da fechadura e cantoneiras, característico da artes chinesa e japonesa, e sempre presente em ferragens preciosas de mobiliário para exportação deste período produzido na China e no Japão, caso das ferragens em cobre dourado da produção Namban. Neste particular é de referir que, ao contrário da maioria das tipologias de mobiliário produzido na Ásia para o mercado europeu, invariavelmente seguindo protótipos levados pelos Portugueses logo a partir dos inícios do século XVI, esta segue uma forma já usada no Japão. Estas raras peças de mobiliário tornaram-se conhecidas em português como ventó, de bentó, uma palavra de origem japonesa. No entanto, o termo japonês bentō, que transitou para o português, e de acordo com a definição do primeiro dicionário japonês-português, publicado com o título Vocabulario da lingoa de Iapam em 1603, foi e ainda é hoje utilizado para identificar uma caixa para almoço. Na verdade, o modelo original japonês para o ventó é conhecido por kakesuzuri-bako, literalmente "caixa-escritório portátil", que, quando apresenta porta frontal e ferragens como as de um cofre-forte tornando-o inexpugnável a estranhos, é chamado dansu, literalmente "arca de navio com gavetas": caixa para selos (instrumentos de escrita) e valores (moedas, dinheiro) com uma única porta frontal articulada por dobradiças, normalmente revestida por ferragens complexas (veja-se Crespo 2016, pp. 136-171, cat. 15, ref. pp. 136-149).
Todas as faces exteriores deste ventó apresentam o mesmo esquema decorativo: o topo e o tardoz, e as duas ilhargas, possuem cercadura plana de marfim decorada com enrolamentos vegetalistas incisos avivados a vermelhão, um campo formado por placas trapezoidais de tartaruga e um campo central rectangular (ou quadrado no tardoz e frente) de tartaruga emoldurado por cercadura plana de marfim com idênticos enrolamentos florais. Quando aberto, o contador revela duas gavetas sobrepostas de igual dimensão dividas por entrepano faixeado a tartaruga (fixo por rosetas de prata), sendo as frentes cobertas por placas de tartaruga com estreitas cercaduras planas de marfim, igualmente de decoração incisa; os puxadores, em prata à semelhança das restantes ferragens, são em argola. Esta rara decoração incisa, de enrolamentos fitomórficos de grande leveza e de desenho tipicamente cingalês, preenchidos depois com mastique vermelho, surge também numa igualmente rara caixa redonda em tartaruga recentemente publicada (Crespo 2019, pp. 238-239, cat. 29), aí conjuga



Leilão Terminado