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Retrato de D. Sebastião


Estimativa

30.000 - 50.000


Sessão

29 Novembro 2011



Descrição

Retrato de D. Sebastião
Óleo sobre tela do Séc. XVII, de autor desconhecido.
Dim: 53x42cm


Talvez por ser tão desejado antes de nascer como depois da morte, D. Sebastião foi dos reis portugueses mais retratados ao longo da nossa história. São conhecidos retratos seus desde a mais tenra idade, ainda no berço aparece, simbolicamente representado, numa iluminura de António de Holanda para ilustra as Sentenças para a Ensinança e Doutrina do Príncipe D. Sebastião, datado de 1554. Depois, mercê da circunstância de sua mãe, Joana de Áustria, o ter deixado, com três meses de idade, à guarda da avó, Catarina de Áustria, por ter de socorrer o irmão, Filipe II, no governo de Espanha, são vários os retratos que se enviaram para Madrid, de forma a que a progenitora de alguma forma acompanhasse o crescimento do seu filho. Logo quando o príncipe contava apenas três anos foi retratado por Jorris van der Straeten pois, embora este retrato tenha desaparecido, existe notícia documental do pagamento pelo trabalho, no dia 14 de Dezembro de 1556. Entre 1557 e 1564 foi novamente retratado, desta vez a cavalo, já que dele existe nota nos inventários das coisas que pertenciam a Dona Joana de Áustria. Por estes anos (1561) era também retratado por Cristóvão de Morais, agora de pé junto a uma mesa, conhecemos este retrato pela gravura que dele fez Hieronymus Cock. Depois, em 1564, foi retratado Sánchez Coelho, que a partir deste modelo tirou diversas cópias para enviar para as diversas cortes europeias, uma delas será aquela que recentemente foi encontrado por Annemarie Jordan num castelo da Áustria. No ano seguinte coube outra vez a Cristóvão de Morais a honra de retratar o rei para que sua mãe o tivesse junto a si, no convento que fundou em Madrid, as Descalzas Reales. Este ainda hoje pode ser visto no lugar para que foi pintado. Diz-se que é também de Morais o retrato (tirado de outro que seguiu para Roma para ser oferecido ao Papa) emblemático do rei que se conserva hoje no Museu Nacional de Arte Antiga e que a mãe juntou à galeria que tinha no referido mosteiro. Deste último foram feitas também várias cópias, de meio corpo, a três quartos, ou em corpo inteiro e que se conservam em várias colecções. Finalmente existe uma outra série de retratos do rei, já adulto, quando deixou crescer barba e bigode loiro, com gibão negro e ostentando ao peito Ordem Militar de Cristo, cujo protótipo terá sido pintado dois anos antes da batalha de Alcácer Quibir que, embora não seja conhecido o original de Sánchez Coelho, se tornou no mais difundido dos seus retratos. Deve-se este fenómeno ao facto deste modelo ter sido reproduzido em gravura de A. Peret, em 1603 (portanto já depois do malogrado desaparecimento do rei), para a muito difundida obra de Bernardo de Brito, Elogio dos reis de Portugal, com os seus mais verdadeiros retratos...”. É neste série de retratos que devemos incluir aquele que agora vai à venda na Veritas. O que realmente se altera no presente modelo é que, desta feita, D. Sebastião enverga armadura com cruz de Cristo pintada no peito, de que se vê apenas a haste superior. Este mesmo modelo é replicado em dois outros retratos que se guardam em Florença, um em miniatura e outro, atribuído a Cristofano dell’Altissimo, na série de retratos que corre junto à cimalha do corredor da Ponte Vecchio, que liga os Uffizi ao palácio Pitti. Em qualquer destes casos tratam-se de obras pintadas já depois da morte do rei e que se podem enquadrar no chamado fenómeno Sebastianista. A vontade de ver retornar o rei e assim restabelecer a independência de Portugal provocou uma onda propagandística que se materializou em folhetos, tratados, lendas e mesmo figuras que se faziam passar pelo rei. Retratos pintados e gravadas, directamente relacionadas com este fenómeno, são bastante conhecidos e nalguns podemos ver o aspecto do rei como deveria reaparecer, agora já com idade mais avançada, calvo de barbas brancas e traços do rosto mais acentuados.
Quando o rei desapareceu em Alcácer Quibir deixou o reino órfão e não admira que o povo quisesse reaver aquela figura com quem se identificava, mesmo que o monarca que agora reinava fosse, quem sabe, dos melhores governantes que o país conheceu.
Anísio Franco


Categoria

Pintura



Leilão Terminado