Leilão 77 Antiguidades e Obras de Arte

209

Raríssimo par de terrinas D. João V de grandes dimensões


Estimativa

60.000 - 80.000


Sessão 1

22 Maio 2018



Descrição

Em prata do Rio de Janeiro do séc. XVIII
Corpos ovais com oito ressaltos que se prolongam na tampa, barriga pronunciada e pé gomado acompanhando todo o corpo
Asas entalhadas em pau-santo decoradas com volutas e remates vegetalistas, pomos das tampas em pau-santo entalhado representando cães de fóo
Marca de ensaiador do Rio de Janeiro de meados do séc. XVIII (BR-34) e de ourives ADF igualmente de meados do séc. XVIII (BR-76)
(sinais de uso, pequenos defeitos e alguns parafusos substituídos)

Comp.: 48 cm
7939 g


Categoria

Pratas


Informação Adicional

Proveniência:
Casa da Ínsua, Penalva do Castelo, Viseu, até ao fim da década de 1990
Colecção Particular, Lisboa

A casa da Ínsua, um dos mais importantes e opulentos solares portugueses foi totalmente reconstruída durante o século XVIII por Luis d’Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (1739-1797), que entre 1772 e 1788 desempenhou um relevante papel como Governador e Capitão General da Capitania do Mato Grosso. A casa da Ínsua possuía, até ter sido consumida por um incêndio em 1970, uma das mais importantes bibliotecas setecentistas sobre o Brasil.
O invulgar facto de se ter conservado na mesma família desde a sua encomenda até há poucos anos, é a razão deste par de terrinas ter permanecido inédito até agora.

Nota:
De absoluta raridade este par de terrinas forma um conjunto ímpar na história da ourivesaria brasileira e portuguesa.
Se as terrinas portuguesas ou de produção em território português em prata do século XVIII são raras os pares de terrinas são exponencialmente mais raros. Apenas conhecemos outro par que pertence hoje à Fundação Medeiros e Almeida - Lisboa; a propósito deste par diz Reynaldo do Santos e Irene Quilhó: "o único par de terrinas desta época que conhecemos na nossa ourivesaria, executado pelo mesmo ourives; embora possam existir outros são seguramente excepções", in Ourivesaria Portuguesa nas Colecções Particulares, pág. 39, il. 15.
As terrinas a que se referem são da autoria de João Pinto Pereira, datáveis do último quartel do século XVIII mas ainda dentro de uma estética barroco/rococó, singularidade definidora do gosto cortesão português do final de setecentos. Com pouco menos de 30cm de comprimento estão dentro da dimensão usual para esta tipologia ao contrário do conjunto agora em venda em que cada terrina tem 48cm de comprimento.
Directamente inspiradas pelos modelos de porcelana da China de exportação (Companhia das Índias) as terrinas oferecidas neste leilão destacam-se pelas suas enormes dimensões e peso, numa clara sobreposição do aparato à funcionalidade. Este é um traço definidor das peças setecentistas de ourivesaria (e não só) brasileira que são invariavelmente marcadas por esta ênfase na dimensão sem que isso interfira na qualidade de execução ou no equilíbrio do desenho.
Durante o século XIX, especialmente após a independência do Brasil mas ainda - e incompreensivelmente - com alguns resquícios nos dias de hoje, os compradores portugueses olharam para as peças de ourivesaria setecentista de produção brasileira de forma algo relutante, sem razões objectivas para tal. Hoje é evidente que a raiz deste movimento estava no sentimento de perda e consequente reacção da antiga capital à separação definitiva dos reinos.
As melhores produções brasileiras de ourivesaria dos reinados de D. João V e D. José são não só a prova da enorme riqueza do território onde foram executadas, do extremo poder económico que sempre definiu a elite brasileira mas também um extraordinário e raro testemunho do esplendor dos interiores civis setecentistas.
Poupado à destruição do grande terramoto, aos impiedosos saques franceses do início do século XIX e à guerra civil que em muito empobreceram os tesouros da corte, o Brasil preservou alguns testemunhos únicos da vivência comum de um território que durante séculos partilhou não só a mesma língua como a mesma coroa.
É com enorme satisfação que oferecemos à praça estas peças de que não conhecemos paralelo
João Júlio Teixeira



Leilão Terminado