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Natureza Morta com tapete, porcelanas, livros e "memento mori"
Pseudo-Roestraten, Attrib. (n. c.1700)
Estimativa
10.000 - 15.000
Sessão 1
20 Março 2023
Valor de Martelo
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Óleo sobre tela
Assinado
192x217 cm
Categoria
Pintura
Naturezas morta com tapete, livros e “memento mori”
A pintura que agora trazemos a leilão apresenta uma composição de diversos objetos dispersos sobre uma mesa coberta por um tapete.
Na pintura, os tapetes surgem representados para a evidenciar um local onde uma ação significativa está a acontecer. Por exemplo, é sobre um tapete que são representados os santos cristãos e é sobre ele que se desenrolam algumas das cenas iconográficas mais importantes como a Anunciação.
Mais tarde, já no século XVII e por aí adiante, os tapetes passaram a figurar num contexto secular. Neste “novo” contexto contribuem para reproduzir as ideias de opulência; de exotismo; de luxo; de riqueza e de estatuto social.
Primeiramente, o seu usufruto foi assegurado apenas aos mais poderosos e ricos (como a realeza e a nobreza). Mas, mais tarde, à medida que o poder económico da burguesia se foi desenvolvendo os tapetes orientais passaram a figurar nos retratos de mercadores e de ricos burgueses.
Durante o final do século XVII e inícios do século XVIII, o interesse pela representação de tapetes diminui e simultaneamente, as pinturas passaram a prestar cada vez menos atenção aos detalhes.
No lote que agora trazemos a leilão destacamos a presença de uma mesa acarpetada onde é exibida a combinação de uma série de objectos que são um memento mori (termo em latim para “lembre-se que é mortal”) do efeito nivelador da morte nos luxos terrenos.
Os livros, os papéis, os instrumentos de escrita e os óculos, dispersos pela mesa são uma menção ao estudo, ao conhecimento e aos negócios. E, surgem aqui como uma alegoria ao esforço humano que é interrompido quando a ampulheta da vida se esgota.
O pote de cerâmica que significa o vinho, simboliza a representação do amor, da paixão da sedução e das conquistas.
Finalmente, o bule e os restantes objectos em porcelana da China que repousam na mesa sugerem tanto a atividade descontraída de beber chá quanto o estatuto social que tais objectos elucidam.
Tudo isso são objectos descartados na implacável passagem do tempo, e que são uma menção à transitoriedade, ao vazio da riqueza e das posses, à extinção e ao vazio da vida terrena.
Por fim, em último plano temos uma harpa que é visto como um instrumento angelical, que simboliza a harmonia e o louvor a Deus, e que pode ser vista como o vínculo entre o céu e a terra, uma vez que as suas cordas são os degraus figurativos de uma escada que indica a direção para a vida eterna.
O significado vanitas é ainda mais evidenciado pela presença da caveira, e da ampulheta que surgem em primeiro plano sobre os livros.
O Artista:
É provável que esta pintura seja do Pseudo-Roestraten (ca. 1675-1725), um artista anónimo do século XVII/XVIII que pintou um considerável número de naturezas-mortas onde estão representados livros, documentos e objetos preciosos, num estilo muito parecido com o de Pieter Gerritsz. van Roestraten (1630-1700).
Este artista, cuja verdadeira identidade ainda não foi estabelecida, foi assim chamado pelo Historiador de Arte Doutor Fred Meijer da Rijksbureau voor Kunsthistorische Docmentatie (RKD) nos anos de 1990.
Esta sua atribuição tem por base as óbvias afinidades estilísticas, que encontrou entre cerca de 100 naturezas-mortas do artista anónimo, e as obras do artista Pieter Gerritsz. van Roestraten.
Meijer tende em querer que o trabalho, de ambos os artistas, foi distintamente admirado entre os colecionadores ingleses, sendo provável que o último tenha realizado obras encomendadas pelo Marquês de Lothian e pelo Lord Clifford de Chudleigh.
Uma das obras mais conhecidas do artista é uma grande natureza morta de 1678, que foi documentada no ano de 1727 em Chatsworth House, onde permaneceu até ser leiloada pela Christie’s a de 27 de Junho de 1958.
Uma outra pintura, muito semelhante à que agora trazemos a leilão pode ser contemplada na Trewithen House em Probus no condado da Cornualha, Inglaterra.
Se por um lado nada se sabe sobre a vida e obra deste artista anónimo, o mesmo não se pode dizer sobre o seu contemporâneo e afamado colega de métier. A parti de 1649 foi aluno de Frans Hals (c.1580-1666) em Haarlem. No ano de 1651 mudou-se para Amsterdão, onde veio a contrair matrimónio, no ano de 1654 com Adriaentje, uma das filhas do seu mestre Hals. Anos depois, o casal mudou-se para a cidade de Londres onde morava no lado sul da King's Street, o que o colocava muito próximo ao Palácio de Whitehall e dos estúdios de outros artistas, como Peter Lely e John Michael Wright (1617-1694). Sabe-se que o pintor foi ferido no quadril durante o grande incendio de Setembro de 1666 e que por isso ficou a coxear para o resto da vida.
Van Roestraten foi principalmente um pintor de naturezas mortas e maioria de suas obras são conhecidos por “pronkstillevens” (termo holandês para fazer referência a grandes, ostensivas, luxuriantes e exuberantes naturezas-mortas). Nessas pinturas é bem percetível a sua capacidade para representar superfícies de objetos de metal como a prata, e podemos contemplá-las como uma forma de retratar os objetos preciosos do seu patrono aristocrático. Provavelmente, foi apresentado ao Rei Charles II (1630-1685) pelo pintor Sir Peter Lely (1618-1680) com a condição de que não pintasse retratos, mas sim apenas naturezas mortas.
Quando sua primeira esposa morreu, casou-se novamente, mas morreu logo depois e foi enterrado a 10 de julho de 1700 na Catedral de São Paulo em Londres.
Bibliografia:
Willigen, Adriaan van der (1926-2001); Meijer, Fred G.
“A dictionary of Dutch and Flemish still-life painters working in oils : 1525-1725”, 2003, p.227.
Leilão Terminado