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Sem título, 1957
Jorge Vieira (1922-1998)
Estimativa
35.000 - 50.000
Sessão
31 Março 2025
Valor de Martelo
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Bronze e bronze dourado
173x51,5 cm
Categoria
Arte Moderna e Contemporânea
Informação Adicional
Grupo escultórico encomendado para a Boutique Madame Campos, em Lisboa, na Av. Alexandre Herculano, em 1956, cujo projecto arquitectónico é da autoria de Conceição Silva, juntamente com José D. Santa-Rita. A obra é semelhante, em escala reduzida, a outra realizada pelo artista, no mesmo ano, para o Pavilhão de Portugal do Comptoir Suisse de Lausanne - também projetado por Conceição Silva -, e que pertence hoje à colecção do MNAC.
Exposições:
"Cheira Bem, Cheira a Lisboa", Museu de Lisboa, Palácio Pimenta, Lisboa, 2024/2025.
Bibliografia:
Arqto. João Pedro Conceição Silva (Coord.), "Francisco da Conceição Silva, Arquitecto", Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1987, p. 37; Francisco Pereira Coutinho, "Escultor Jorge Vieira em Lisboa: O Sentido da Sua Obra", Edição Câmara Municipal de Lisboa, 2023, pp. 32-33; Pedro Lapa, "Escultura em Espaços Públicos", in Jorge Vieira, Museu do Chiado, 1995, pp. 121-122.
Créditos Imagens de Arquivo:
Col. Estúdio Mário Novais I Biblioteca de Arte Gulbenkian
Ensaio de Catálogo
Um par de animais sem título
Pedro Lapa
Historiador de Arte e Professor da FLUL
Curador da Retrospetiva Jorge Vieira, MNAC, 1995
A escultura modernista em Portugal teve em Jorge Vieira (1922 – 1998) o seu principal protagonista. Foi com ele que a escultura conheceu as transformações profundas geradas pelos novos entendimentos da sua materialidade e massa na relação com o espaço envolvente ou com outras tradições culturais geográfica ou temporalmente afastadas. Esta aproximação permitiu encontrar afinidades formais na síntese dos volumes ou das suas articulações fora das limitações naturalistas e às quais as suas esculturas deram novas significações, geralmente subvertendo os valores simbólicos associados. Jorge Vieira elaborou assim uma linguagem onírica sensível aos impulsos do inconsciente e às suas manifestações materializadas no encontro com as possibilidades dos diferentes materiais com que trabalhou, geralmente o barro ou o bronze, para construir corpos fantásticos. A sua poética surrealista, independente dos grupos organizados que definiram o mapa dos conflitos da sua geração, atingiu um desenvolvimento ímpar nesse período de finais da década de 1940 e inícios da seguinte. Depois de ganhar um prémio na Tate Gallery, em 1953, pela sua escultura ‘Maquete para o monumento ao prisioneiro político desconhecido’, 1952, estabeleceu-se em Londres, onde trabalhou com Henry Moore e Reg Butler e um novo período da sua escultura tem lugar. Mais afastado da massa compacta, rotunda e orgânica do barro, dedica-se então a formas verticais estruturadas por filamentos metálicos e espaços vazios ou por equilíbrios de formas oblongas em bronze, formando conjuntos de configuração biomórfica. Em 1956 expôs na famosa Hannover Gallery com Eduardo Paolozzi, Lynn Chadwick, Cesar e Reg Butler, numa situação inédita para a escultura moderna portuguesa e significativa do prestígio que alcançara.
É também por esta década que os novos arquitetos modernos começam a angariar encomendas para projetos de lojas ou mesmo para construção de edifícios e nos quais integram a participação de artistas da sua geração. Um dos principais arquitetos, empenhado nestas colaborações, foi Conceição Silva, a quem foi encomendado conjuntamente com Santa Rita o projeto para a Boutique Madame Campos, na Avenida Alexandre Herculano, em Lisboa, em 1957. Jorge Vieira foi convidado a colaborar com uma escultura, que foi instalada no exterior diante da montra, que recuou relativamente à fachada dando espaço para a escultura ser observada de 360º e também do interior da loja, porque a montra e a porta de entrada eram constituídas por uma ampla chapa de vidro. Trata-se de um grupo escultórico que constitui uma variante de outro, sem título, realizado no mesmo ano para um projeto de Conceição Silva, destinado à feira do Comptoir Suisse de Lausanne de 1958 e que está hoje exposto no jardim do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado.
A escultura então realizada para a Boutique Madame Campos apresenta um par abraçado. Os corpos são sinteticamente compostos por duas grandes formas oblongas da extremidade das quais saem, na parte superior, as cabeças – uma cónica invertida e outra ondulante e pontiaguda –, na inferior, as pernas filiformes dobradas ou as ancas femininas. Se a configuração do par é declaradamente zoomórfica, assemelhando-se a insetos, aspeto que o surrealismo trabalhou de forma a gerar uma indiferenciação entre o humano e outras espécies, existem detalhes discretos relativos à morfologia do sexo das figuras que reinscrevem a dimensão antropomórfica com um humor subtil. Este aspeto, transversal à obra de Jorge Vieira, permitiu-lhe recentrar a deriva das pulsões inconscientes de encontro aos hábitos quotidianos e com isso estabelecer a possibilidade da sua subversão.
A escala da escultura é pouco comum na obra de Jorge Vieira, normalmente circunscrita ao plinto da galeria, condição da escultura moderna da época em Portugal. Com estas participações em espaços públicos a sua escultura pôde experimentar outra escala que lhe permitiu novos desenvolvimentos da sua afirmação moderna.
Leilão Terminado