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Importante Retábulo "Cristo crucificado"


Estimativa

15.000 - 35.000


Sessão 1

6 Junho 2023



Descrição

Escultura em alto-relevo
Em madeira entalhada, policromada e dourada representado cristo crucificado ao centro ladeado por Querubins, Anjos e Arcanjos
encimado por inscrição INR
Portugal, séc. XVII (1º metade)
(faltas e defeitos)

174x170x19 cm


Categoria

Escultura


Informação Adicional

Proveniência:
Colecção Comandante Ernesto Vilhena

Sobre o Comandante Ernesto Vilhena (1876-1967)

Homem de vastos interesses, o comandante Ernesto Jardim de Vilhena (1876-1967) dedicou parte da sua vida ao colecionismo de obras de arte, tendo adquirido uma das maiores e mais relevantes coleções artísticas realizadas em Portugal.
Filho de Júlio Marques de Vilhena (1845-1928), figura que se destacou em diversos campos tendo sido ministro da Justiça e dos Negócios Eclesiásticos, entre 1881 e 1883, e governador do Banco de Portugal, entre 1895 e 1907, e de Maria da Piedade Leite Pereira Jardim (1848-1930), irmã de Luís Leite Pereira Jardim, 1.º Conde de Valenças.
Ernesto Vilhena ter-se-á dedicado ao colecionismo apenas a partir da década de 1920.
Como colecionador foi metódico, racional e preciso, rodeando-se de especialistas e comerciantes de arte, procurando sempre, como nos refere a investigadora Maria João Vilhena de Carvalho, através da sua coleção a “representação da identidade nacional nas artes”.
Durante a sua vida, a coleção foi preservada no Palacete Vilhena, ou como era intitulado “Museu Vilhena”, na rua de S. Bento em Lisboa, contando com um acervo constituído por 60.515 peças – distribuindo-se pelas artes decorativas, plásticas e biblioteca. Atualmente uma parte deste acervo, por doação dos seus herdeiros, pertence ao acervo do Museu Nacional de Arte Antiga.
Do património de Ernesto Vilhena destacamos as aquisições de escultura sacra, como referido pelo historiador Reynaldo dos Santos (1880-1970), no prefácio da obra Oito Séculos de Arte Portuguesa:
“Duas bases renovadoras permitem-nos hoje esboçar, pela primeira vez, a história da Escultura em Portugal. A primeira devemo-la às revelações do «Inventário Artístico» que esta Academia [Nacional de Belas Artes] foi encarregada de organizar, e que já abrange, nos seus ficheiros, os distritos de Braga, Santarém, Portalegre e Coimbra, este último particularmente rico em escultura. A segunda devemo-la ao estudo da notável colecção do Exmo. Comandante Ernesto de Vilhena, rica de mais de mil espécies, a maior parte das quais do período gótico, e onde estão representadas não só algumas das obras essenciais da imaginária dos séculos XIV e XV, mas numerosas réplicas regionais que revelam a influência e irradiação dos protótipos.”
A coleção de esculturas de Ernesto Vilhena tem tal importância para o nosso país, que segundo Reynaldo dos Santos “O País deve-lhe a salvação de uma grande parte da imaginária medieval ...”, após Lei da Separação em 1911. Em 1969, realizaram-se duas exposições na Biblioteca Nacional, com 1490 esculturas de diversas épocas.
Este importante retábulo, agora apresentado a leilão, definido por uma estrutura de três painéis em madeira entalhada, policromado e dourado com escultura, apresenta uma cenografia alusiva à salvação das “Almas do Purgatório”.
Os painéis laterais são ornamentados com motivos vegetalistas e figura de anjo, segurando um ramo de lírios, símbolo de pureza na tradição cristã. A cena representada no painel central, desenvolve-se em dois planos. O inferior, marcado pelas chamas do purgatório, onde se encontram almas em oração, pedindo complacência pelos pecados terrestres, e anjos libertadores que carregam as almas destinadas a aceder ao paraíso. No segmento superior, ao centro, encontra-se uma representação escultórica em madeira do Senhor Crucificado, com a inscrição do acrónimo “INRI” (Jesus Nazareno Rei dos Judeus), rodeada de anjos e querubins.
Em Portugal são conhecidas imagens do purgatório desde o século XV. No entanto, a maioria dos retábulos hoje encontrados datam dos séculos XVII e XVIII, remontando a origem desta temática, no imaginário coletivo popular, á Idade Média, através das iconografias do Juízo Final.

Bibliografia:
CARVALHO, Maria João Vilhena de – A Constituição de uma Coleção Nacional. As Esculturas de Ernesto Vilhena. Vol. 10. Coleção Estudos de Museus. Casal de Cambra: Caleidoscópio e Direção-Geral do Património Cultural, 2017.
MARIZ, Vera - «Maria João Vilhena de Carvalho – A Constituição de uma Coleção Nacional. As Esculturas de Ernesto Vilhena», MIDAS, 2020.
SANTOS, Reynaldo dos. A Escultura em Portugal. Lisboa. 1948-1950.
LAMEIRA, Francisco; LOPES, Inês Afonso; del Rio João, Martina. Retábulos das Almas no Purgatório, Promotoria Monográfica História da Arte 26, Faro, 2021




Leilão Terminado