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Retrato de D. Maria Bárbara de Bragança (1711-1758), Rainha de Espanha

Círculo de/Circle of Louis-Michel van Loo (1707-1771)


Estimativa

20.000 - 30.000


Sessão 1

24 Junho 2020



Descrição

Óleo sobre tela

103,5x83,5 cm


Categoria

Pintura


Informação Adicional

Sua Alteza real, a Infanta de Portugal Dona Maria Bárbara de Bragança (1711-1758) era filha do Rei D. João V de Portugal (1689-1750) e da Rainha-consorte Dona Maria Ana de Áustria (1683-1754). Nasceu em dezembro de 1711 como herdeira presuntiva ao trono português, e devido a um voto do Rei o convento de Mafra foi edificado em sua honra. No entanto o seu estatuto de Princesa do Brasil foi suplantado após a rainha dar à luz dois filhos varões, D. Pedro (1712-1714) e o infante D. José (1714-1777), que a impediram de subir ao trono de Portugal.
Filha de um dos monarcas mais ilustres da sua época, recebeu uma excelente educação tendo sido uma grande amante das belas-artes, salientando-se o facto de ter tido Domenico Scarlatti (1685-1757) como seu mestre de música.
A 10 de janeiro de 1723 a jovem princesa foi prometida em casamento ao Infante Fernando (1713-1759), filho do Rei Filipe V de Espanha (1683-17446) e seis anos depois (19 de janeiro de 1729) deu-se o episódio da “Troca das Princesas”. A cerimónia realizou-se numa grande ponte-palácio, construída em madeira e ricamente decorada, com vários pavilhões em ambas as margens do rio Caia (que faz fronteira entre Elvas e Badajoz). Além do casamento entre o Príncipe herdeiro espanhol e a Infanta portuguesa, a Corte testemunhou o casamento entre o Príncipe herdeiro de Portugal, o futuro Rei D. José I de Portugal, e a Infanta Mariana Vitória de Bourbon (1718-1781).
Depois de casada, passou dezassete anos como Princesa das Astúrias, surgindo representada no quadro de 1743, da autoria de Louis-Michel van Loo (1707-1771), onde o Rei Filipe V de Espanha se fez representar acompanhado de toda a sua família. Uma obra que faz parte das coleções do Museu do Prado em Madrid.
Com a morte de Filipe V de Espanha, em julho de 1746, Fernando ascendeu ao trono e Maria Bárbara tornou-se Rainha de Espanha. Ocupou um papel importante na corte, particularmente como intermediária entre o Rei de Portugal e o seu marido, salientando-se as negociações do Tratado de Madrid (1746-1750). Fiel ao seu gosto pela música, protegeu o famoso cantor italiano Farinelli (1705-1782) e continuou a conviver com Scarlatti, chegando a própria Rainha a compor sonatas para uma grande orquestra. Promoveu também a construção do Convento das Salésias Reais de Madrid.
O quadro que apresentamos representa D. Maria Bárbara de Bragança, a meio corpo, voltada a três quartos à esquerda. A infanta enverga um decotado vestido azul, bordado com flores e ramagens, de onde emergem as mangas rendadas de uma blusa branca. Tem preso no ombro esquerdo, por uma pregadeira de diamantes, um manto de arminhos que lhe passa pelas costas. Usa cabeleira empoada, apanhada, de lado, por um toucado com sete diamantes e penas negras. Ao centro da cabeça assenta uma pequena coroa em ouro e pérolas. O braço direito apoia-se numa almofada e na mão esquerda, sustém, em frente ao corpete, a miniatura de uma figura masculina.
O rosto da infanta é muito semelhante ao que Domenico Duprà (1689-1770) alcançou no quadro realizado no ano de 1725, e que hoje encontramos no Museu do Prado. Outras semelhanças, encontramos numa pintura realizada por Louis-Michel van Loo (1707-1771) onde a Infanta surge com um toucado de sete diamantes e plumas negras a adornar a sua cabeleira empoada. Nesse quadro a almofada onde repousa o braço também apresenta claras semelhanças com a que é aqui exibida sobe o braço direito da infanta. O mesmo toucado de diamantes volta a ser representado no já referido quadro do Rei Filipe V com a sua Família (1743).
É no quadro do acervo do Palácio Nacional da Ajuda em Lisboa, que nos deparamos com a idêntica representação da infanta a segurar uma miniatura do seu marido. Nessa miniatura o futuro Rei Fernando VI aparece com cabeleira, armadura, tosão de ouro e faixa azul, em posição a três quartos voltado à direita. Esta miniatura é muito semelhante a um quadro de escola espanhola do século XVIII que surgiu no mercado e arte em janeiro de 2016 e que representa o Rei Espanhol.
Outro adereço que encontramos representado em retratos da Infanta portuguesa e Rainha de Espanha é a pequena coroa de ouro e pérolas. Numa pintura, do mesmo Van Loo, onde a infanta surge já como Rainha, este adereço é representado juntamente com um toucado análogo ao que já falamos anteriormente. A pintura também faz parte do acervo do Museu do Prado. Dois outros quadros, do mesmo pintor, e que fazem parte da Real Academia de Belas-Artes de São Fernando também apresentam o mesmo adereço.
Salientam-se ainda as pinturas de Jean Rac (1674-1735). Uma de 1729, que faz parte das colecções do Museu do Prado, em que a infanta é pintada num espaço exterior, a segurar um ramo de flores, com um vestido em seda amarela e manto vermelho, sobre os quais apresenta um rico conjunto de jóias, diamantes e rubis. Aqui salienta-se o toucado em diamantes, de composição semelhante ao que surge no quadro que trazemos a leilão. Do mesmo artista destaca-se uma pintura, da coleção da Universidade Compluente de Madrid, em que a Infanta surge ricamente vestida nos mesmos tons que os do quadro que trazemos a leilão, e na sua cabeça apresenta um elaborado toucado e um diadema.
Em suma, esta pinturas para além de ser um registo iconográfico da Infanta portuguesa que foi rainha de Espanha, é mais um exemplo de como no século XVIII os toucados resplandeciam com pedraria. Normalmente, flores eram combinadas com enfeites festivos que formavam composições teatrais e configuravam uma imagem de ostentação. As flores de ornamentação e o cromatismo das joias entravam em feliz corporação com a riqueza dos vestidos coloridos (à base de azuis ferretes, carmesins, verdes, entre outras cores). Um dos aspetos mais relevantes a destacar da relação entre a joalharia e a nobreza da Corte reside na manifestação de riqueza e de poder. Num ambiente cortesão, em que o peso do protocolo, da representatividade e dos apertados códigos de conduta constituíam sinais atentos, a nobreza via na joalharia uma das mais importantes formas de se manifestar.

Círculo de Louis-Michel van Loo (1707-1771)
A pouco e pouco, a atitude resoluta, calma e digna dos retratos do Renascimento e do Barroco torna-se artificial e presunçosa. A sociedade dos meados do século XVIII privilegia a expressão fugidia e o estudo psicológico (limitado ao rosto) que numa insistência no pormenor, na riqueza de paletas, vestuários de vários cambiantes e fundos de paisagem, associados ao preciosismo dos gestos, criam um clima fortemente artificial, porém mantendo um carácter poético.
Louis-Michel van Loo pertenceu a uma dinastia de célebres pintores de origem holandesa, estabelecidos em França. Aluno do seu pai Jean-Baptiste van Loo (1684-1745), estudou em Turim e em Roma e frequentou a Academia de Paris. Em Roma trabalhou com o seu tio Charles-André van Loo (1705-1765) e foi pintor da Corte de Turim. No ano de 1737 chegou a Espanha onde foi contratado pelo Rei Filipe V, sucedendo a Jean Rac (1674-1735) como pintor de câmara.
Em Madrid, o seu trabalho distribui-se entre as encomendas para Corte e a Academia de Belas-Artes de São Fernando (da qual foi membro da fundação e director da secção de pintura, em 1752). As suas funções na Corte consistiram, essencialmente, na execução de numerosos retratos, nos quais alguns copistas, sob sua direção, o ajudavam (entre esses colaboradores podemos citar o seu aluno Benoít Verdot), destinados a serem ofertas Reais.
Louis-Michel Van Loo foi maioritariamente considerado, quase em exclusivo, como pintor da Família Real espanhola. Porém, esta é uma visão equivocada de sua produção artística. Não nos devemos esquecer das pinturas de temática mitológica, dos cartões para tapeçarias, bem como dos retratos que realizou de membros da aristocracia e da sociedade. A sua obra é extensa e revela o domínio da influência italiana sobre a francesa. Nos seus retratos conseguimos entender a envolvência do protagonista no espetáculo, na pompa adequada à sua posição social. Isso deve-se aos seus fundos, de grande esquema arquitetónico, nos quais são exibidos magníficos panejamentos e vários acessórios que sempre tendem a criar uma atmosfera sumptuosa. Detalhes que estão evidentes nesta pintura.
Com a morte de Felipe V (julho de 1749), Van Loo torna-se no principal pintor do seu sucessor Fernando VI, tendo realizado vários retratos deste e de sua esposa a Rainha Maria Bárbara de Bragança. Assim, as semelhanças que encontramos entre este quadro, e outros do mesmo artista, com a representação da mesma personagem, leva-nos a considerar estarmos perante uma obra de grande qualidade do seu círculo.

TIAGO FRANCO RODRIGUES

Bibliografia:
- Luna, J. J.: "Nuevas apreciaciones sobre las obras de Louis-Michel Van Loo en el Museo del Prado", Boletín del Museo del Prado, 1982, tomo III, pp. 181-190;
- El Arte europeo en la Corte de España durante el siglo XVIII, Museo del Prado, 1980, p. 154.
- Gonçalo de Vasconcelos e Sousa - Exuberância e cromatismo: Portugal e Brasil na joalharia de Setecentos. Revista Mvsev. IV SÉRIE, N.º 20 (2013), p. 13-46.

Proveniência:
Antiga colecção de um titular espanhol



Leilão Terminado