195
Rara caixa de chá Jorge II em prata, PAUL CRESPIN, Londres, 1745
Estimativa
3.000 - 5.000
Sessão 1
9 Dezembro 2014
Valor de Martelo
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De modelo rectangular com tampa deslizante
Decoração rocaille relevada, cinzelada e gravada. Pés em concha, base recortada com volutas e profusos elementos florais sobrepostos; laterais com grande concha de onde surgem flores e folhagem, centro de ambas as faces com grande cartela enquadrada por concheado; parte superior com concheados de onde pende uma grinalda de flores que percorre toda a caixa. Tampa deslizante com ramo de árvore de fruto com folhas e frutos.
Nas cartelas de ambas as faces timbre de Duff para William Duff (Escócia, 1696-1763), Barão de Braco, Visconde Macduff e Conde of Fife) gravado sob a sua divisa DEO JUVANTE
Marca de Londres para 1745 e do ourives Paul Crespin (1720-1770)
(sinais de uso, pequenas amolgadelas)
12,4x9,7x6,4 cm
400 g
Categoria
Pratas
Informação Adicional
NOTA
Paul Crespin (Londres 1694 Southampton 1770) é um dos mais célebres e importantes ourives ingleses. Tal como Paul de Lamerie (Bois-le-Duc 1688 Londres 1751) ou Nicholas Sprimont (Bap. Liège 1716 Londres 1771), Crespin e o seu irmão mais novo pertenciam ao grupo de huguenotes (protestantes franceses) exilados em Londres depois de 1685.
A chegada deste grupo de artífices foi um dos mais importantes acontecimentos para o desenvolvimento das artes decorativas inglesas no séc. XVIII em áreas como o mobiliário, a relojoaria, a joalharia e muito especialmente a ourivesaria. O know-how e altíssima qualidade de execução não tinha paralelo com a restante produção britânica. A par disto trouxeram novas linguagens já em voga no continente e acabaram por introduzir o rocaille no gosto inglês bem como novas tipologias tais como a terrina ou a molheira. O carácter escultural da decoração das suas peças bem como os gravados de requintada minúcia distinguem este grupo de ourives da restante produção contemporânea.
Crespin trabalhou para uma clientela excepcional onde as encomendas reais de vários pontos da Europa eram muito frequentes, na lista dos seus patronos mais notáveis contam-se entre muitos outos o Duque de Marlborough, o Duque de Portland, o Príncipe de Gales e com mais interesse para nós, o Rei D. João V de Portugal.
Várias vezes Crespin e Sprimont trabalharam em parceria e são especialmente notáveis duas obras: o centro de mesa da baixela Ashburnham (1747) que hoje se guarda no Victoria & Albert Museum e a terrina Neptuno encomendada em 1741 pelo Príncipe de Gales e hoje nas colecções reais do Palácio de Buckingham.
A relação e Paul Crespin com Portugal e a corte portuguesa é notável e paradoxalmente amplamente desconhecida.
Paul Crespin e o seu irmão foram responsáveis pela execução de uma das mais lendárias encomendas reais do reinado de D. João V: a banheira em prata dourada oferecida à sua célebre amante, Madre Paula.
Encomendada pelo rei a Paul Crespin em 1724 a banheira em prata maciça e doublement dorée assentava em pés esculpidos como golfinhos que estendiam a cauda por todo o corpo da peça, apresentava cenas mitológicas em relevo e quase toda a superfície era cinzelada com enorme detalhe. Foi terminada em Agosto de 1724 e apresentada ao rei Jorge II que se mostrou deveras surpreso com tão curiosa peça antes de ser enviada para Portugal.
Já antes Crespin tinha trabalhado para a corte portuguesa, em 1722 uma enorme bacia lava-pés foi executada, muito possivelmente para a cerimónia do lava-pés de 5ª feira Santa. Esta peça fez parte do espólio de uma casa nobre portuguesa até ao final do séc. XIX e hoje pertence ao British Museum onde está em exposição.
É ainda curioso referir que o irmão mais novo de Paul Crespin - de quem não sabemos o nome e que terá trabalhado em parceria com o irmão - foi nomeado orfévre du Roi por D.João V por volta de 1727 e que terá estado em Lisboa pelo menos durante 1729.
Esta relação próxima com os melhores ourives ingleses e que antecedeu as famosas encomendas do Magnânimo a ourives franceses e italianos é quase sempre esquecida na bibliografia sobre as encomendas da corte portuguesa sob os comandos de D.João V e é mais uma prova da qualidade das encomendas de Lisboa na primeira metade do séc. XVIII.
É com orgulho que apresentamos para venda esta peça de grande qualidade assinada por um dos maiores ourives do séc. XVIII e também um dos que mais próximo trabalhou com a corte de D. João V na década de 1720.
João Júlio Teixeira, G.D.
Leilão Terminado