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O Encontro na Porta Dourada
Diogo de Contreiras (1500-1565)
Estimativa
18.000 - 22.000
Sessão 2
15 Abril 2021
Valor de Martelo
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Óleo sobre madeira,
Portugal, c. 1550
118x50 cm
Categoria
Pintura
Informação Adicional
Proveniência: Colecção Alpoim Galvão
DIOGO DE CONTREIRAS (1500-1560)
Nos dias de hoje a História da Arte é unânime em relação à figura de Diogo de Contreiras, um dos mais criativos pintores do Maneirismo português, que através de um estilo muito próprio, cedo se libertou da tutela dos modelos de Gregório Lopes (c. 1490-1550) e conseguiu consumir, a partir de novas experiências, as inovações italianizadas tanto no desenho como na composição e na cor.
O artista está hoje bem identificado em termos de biografia, sabendo-se que trabalhou em Lisboa entre 1521 e 1563 para os melhores clientes do reino, entre os quais constava o Duque de Bragança D. Teodósio I (1510-1563), o Comendador-mor da Ordem de Cristo D. Afonso de Lencastre (c.1505 – 1572), o fidalgo da Casa Real João Rodrigues Português, ou os nobres Costas, de Évora. Este é o resultado das investigações em História da arte, desde que nos anos de 1977-1978, o professor Vítor Serrão identificou o Mestre de São Quintino como sendo Diogo de Contreiras.
Até então este Mestre de São Quintino era confundido com a última fase de Gregório Lopes, nomeadamente em 1954 por Luís Reis Santos (1898-1967), embora sempre autonomizado por Reynaldo dos Santos (1880-1970). No ano de 1957, o Mestre de São Quintino foi profundamente estudado pelo historiador da arte espanhol Martin Sória (1911-1961) que reuniu à sua volta um conjunto de mais de trinta pinturas, posteriormente reforçado pelas atribuições de Vítor Serrão.
A pintura que agora trazemos a leilão é uma das três versões que o artista realizou sobre o tema “Encontro na Porta Dourada”. Uma delas foi pintada por volta de 1540 para a igreja paroquial de Santa Catarina e a outra foi pintada mais tarde para o painel central do tríptico da Conceição do mosteiro de São Bento de Cástris.
A configuração mais robusta das figuras aqui representadas, o facto de surgirem em posição de oração e por não praticarem o abraço da concepção mariana, são factores que apontam esta pintura, no sentido de uma evolução da obra de Contreiras, para um período mais tardio que o do mesmo tema na igreja paroquial de Santa Catarina, sendo esta provavelmente uma pintura do início da década de 1550.
Segundo o historiador Joaquim Caetano, que em seguimento dos estudos de Vítor Serrão se tem debruçado sobre a obra deste artista, Contreiras não segue sempre o mesmo modelo exacto. Por isso, aqui São Joaquim – representado com longas barbas e cabelos grisalhos – surge de perfil e Santa Ana – com um rosto ovalado característico dos modelos femininos do artista – surge em posição frontal, mas um pouco recuada.
Estamos perante uma tábua muito alta e estreita, mas que através da disposição do arco obliquo da Porta Dourada, reforçado sobre um contraforte, que cria um ângulo no centro da pintura, é proporcionada, não só, a abertura para dois fundos, um à esquerda com casario, e um à direita com paisagem, onde se encontra a cena complementar da Anunciação a São Joaquim, mas também é apresentada uma considerável profundidade do painel.
Ao reproduzir o arco em diagonal escoltado pelo contraforte, o autor criou no plano central do quadro uma intersecção, organizada em X que se cruza neste ponto. Um dos eixos diz respeito à figura de Santa Ana com o fundo de paisagem (cuja cor repete a do manto da Santa). O outro eixo corresponde à figura de São Joaquim e à sucessão de tons quentes que são apresentados no fundo de casario. Na vertical, estes dois eixos são cortados pela linha onde, dos ramos de rosas que partem dos corações dos esposos, se suspende a Virgem Imaculada, suspensa num fino crescente e resplandecente na mandorla luminosa.
Segundo Anísio Franco “esta é uma obra incontornável na produção deste artista do renascimento português e, embora descontextualizado do sítio para onde foi criado, a pintura vale por si só e enriquecerá qualquer colecção de um amante das belas-artes antigas”.
Bibliografia:
Joaquim Oliveira Caetano, A identificação de um pintor in "Oceanos", n.º 13, Lisboa, 1993;
Grão Vasco e a pintura europeia do Renascimento: Galeria de Pintura do Rei D. Luís, 17 março a 10 junho 1992, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, em colaboração com Secretaria de Estado da Cultura, Instituto Português do Património Cultural, Instituto Português de Museus, 1992;
Vítor Serrão, História da Arte em Portugal - o Renascimento e o Maneirismo, Lisboa, 2002
Vítor Serrão, Os painéis da igreja de Unhos: séculos XVI - XVII, Boletim Cultural, nº 73-74, Lisboa, 1970, p. 27-52;
Pedro Almeida Flor, A autoria do Retábulo de Santa Maria de Almoster por Diogo de Contreiras (1540-1542), in ARTIS, Lisboa, Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras de Lisboa, 2004, n.º 3, pp. 335-34;
Vítor Serrão e Joaquim Oliveira Caetano, A Pintura Maneirista em Portugal. Arte no Tempo de Camões, catálogo de exposição comissariada por Comissão Nacional para a Celebração dos Descobrimentos Portugueses, galeria de D. Luís, Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa, 1995, n.º 8, pp. 194 e 195
Leilão Terminado