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Nossa Senhora da Piedade


Estimativa

20.000 - 30.000


Sessão

25 Fevereiro 2013



Descrição

Óleo sobre tela
Início Séc. XVII
133x109 cm
Exposição: Museu de S. Roque Mater Misericórdia, 1995
Bibliografia: Catálogo de exposição do Museu de S. Roque pág. 16/17/18/19 Colecção Comandante Alpoim Calvão


Categoria

Pintura


Informação Adicional

As duas pinturas que em tempos constituíram uma bandeira de Misericórdia são, apesar de não se conhecer o seu autor, duas correctas pinturas que serviram na perfeição os intentos promulgados por decreto régio da representação da Virgem da Misericórdia em Portugal. Como muito bem chamou a atenção Joaquim Oliveira Caetano, é rara a determinação por lei de uma representação iconográfica em toda a Europa, mas assim aconteceu no nosso país e a bandeira da colecção Alpoim Clavão é talvez dos primeiros exemplares a seguirem à risca em pintura essas prorrogativas régias. Depois de uma longa demanda, que decorreu em finais do século XVI, pela qual se tentava determinar se o trinitário Frei Miguel de Contreiras tinha ou não sido um dos fundadores da irmandade da Misericórdia chegou-se à conclusão que este facto não só era verdadeiro como as mais antigas representações pictóricas da Mater ominae se viam sempre acompanhadas da figura do ilustre orador. Assim ficou determinado a 15 de Setembro de 1575, durante a provedoria de Ruy Lourenço de Távora na Misericórdia de Lisboa que a representação do egrégio trino deveria constar em todas as bandeiras processionais,mas acrescentaram-se toda uma série de detalhes neste assento que são de tal forma acarretados pelo pintor da bandeira da colecção Calvão que a transcrição livre deste decreto dispensa a descrição da pintura: De comum acordo e unânime consentimento determinamos que no pintar das bandeiras,esteja de uma parte a imagem de Cristo Redentor (a Piedade), e de outra a Santíssima Virgem, Mãe da Misericórdia. À sua mão direita um papa, um cardeal e um bispo, como cabeça da Igreja militante, e um religioso da Santíssima Trindade, grave, velho e macilento, de joelhos e mãos levantadas, com estas letras F.M.I. Que querem dizer Frei Miguel Instituidor: e da parte esquerda da mesma Senhora um rei e uma rainha, em memoria do ínclito rei D. Manuel e da rainha D. Leonor, como primeiros irmãos desta Irmandade; mais dois velhos graves e devotos, companheiros do venerável instituidor; e aos pés da Senhora algumas figuras de miseráveis que representam os pobres. Estava aqui condensada e codificada a iconografia das bandeiras da Misericórdia, mas toma força de lei para todas as demais representações pelo país fora quando, em 1627, um alvará régio de Filipe II de Portugal determinou que as bandeiras de todas as Misericórdias deste reino se conformem com as desta cidade de Lisboa, fazendo-se e pintando-se assim e de maneira que nela se usa, com a imagem do dito religioso e as letras de F.M.I, como dito é e que as bandeiras que já estiverem feitas e pitadas se emendem. Poderemos concluir com a hipótese bem provável que a bandeira da col. Calvão foi pintada logo após esta data, pois não sendo feita para a Misericórdia de Lisboa mas apresentando características tão próximas do assento proferido por Ruy Lourenço de Távora só poderia ser feita lapós o alvará régio.
A pintura representada na outra parte da bandeira, que como vimos é instituída pelo assento sendo obrigatório estar a imagem de Cristo Redentor, também se prende com a história da instituição da irmandade. De facto, a capela no claustro da Sé de Lisboa onde foi criada a irmandade da Misericórdia tinha em tempos idos um confraria dedicada à Piedade. Diz-nos o Santuário Marino que os confrades da Piedade nos acompanhamentos que fazia usava uma bandeira com a imagem de Nossa Senhora, com o filho santíssimo morto em seus braços e era brasão daquela devota irmandade, intitulada da Piedade.Tinha esta confraria como uma das suas principais funções acompanhar os condenados da justiça na sua última caminhada e foi também nisso substituído por uma dos trabalhos da Misericórdia. Não querendo que a memória desta confraria se apagasse, e por ocuparem o seu espaço, os irmãs da Misericórdia determinaram também que nas suas bandeiras nunca faltasse a referida imagem da Piedade. Curiosamente, na bandeira da col. Calvão a Virgem não segura o seu Filho morto nos braços mas, em contrapartida, vê-se numa cena fundeira, à esquerda da composição, uma série de homens a depositar o corpo do Salvador no túmulo, como se os próprios confrades da Piedade O acompanhassem à última morada.
Anísio Franco



Leilão Terminado