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Invulgar conjunto de dois pratos DAGOTY (1771-1740)
Estimativa
400 - 600
Sessão 1
6 Junho 2023
Valor de Martelo
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Em porcelana francesa
Decoração relevada e parcialmente dourada representando concha
Império Francês, c. 1810
Marcados na base "Manufacture de sa majesté l'impératrice, P.L. Dagoty à Paris"
14,5x14 cm
Categoria
Porcelanas
SERVIÇO DE CHÁ POR PIERRE-LOUIS DAGOTY
Pierre-Louis Dagoty (1771-1840) nasceu na cidade de Paris a 2 de Julho do ano de 1771 no ceio de uma família de pintores e escultores. O seu pai Jean-Baptiste André Gauthier Dagoty (1740-1786), foi pintor na corte do Reis Luís XV (1710-1774) e do Rei Luís XVI (1754-1793), sendo ele o autor do primeiro retrato oficial da Arquiduquesa da Áustria Maria Antonieta (1755-1793) como Rainha de França. Uma pintura datada de 1775 e que encontramos no acervo do Museu Château de Versaille com o número de inventário (MV 8061).
No ano de 1785, quando tinha 14 anos de idade, ficou órfão e juntamente com o seu irmão Étienne (c.1772 - 1800) iniciou a sua formação na fábrica de porcelana Dihl et Guerhard onde adquiriu e desenvolveu o conhecimento sobre a decoração e a produção de porcelana.
No ano de 1800, os dois irmãos assinaram um contrato, com uma duração de nove anos, com o intuito de explorarem a produção da moribunda fábrica de porcelana do número 4 da Rue de Chevereuse. Curiosamente, no Le Courrier des Spectacles de 1 de Janeiro de 1800 encontramos o seguinte anúncio:
“Les frères Dagoty, fabricants de Porcelaines, préviennent le public qu'ils ont repris totalement la fabrication de la porcelaines; ils se fluttent que l'on trouvera un nouveau, comme artistes et fils d’artistes distingues, ils chercheront à donner à cette branche de commerce tout le goût et l'élégance dont ele est susceptible
Un avantafe que les citoyens négocians trouveront, c’est que ne vendant à aucuns détailans, ils évirtent par ce moyean de voir répéter dans les magasins les formes et les dessins qui peuvent plaire, ce qui leur paroit essential dans cette partie.
Leur manufacture est rue de Chevreuse boulevard Mont-Parnasse.
Leur magasin est rue du Faubourg Poissonnière, N. 2.”
No fim desse mesmo ano, Étiene faleceu, e no ano seguinte segue-se o irmão mais novo Isidoro, pelo que a produção ficou inteiramente nas mãos de Pierre-Louis.
Foi ele o principal responsável por colocar a manufactura entre as dezoito mais importantes da região de Paris do início do século XIX (Régine Plinval de Guillebon - Dagoty à Paris: La manufacture de porcelaine de l'impératrice Joséphine, 2006, p.26). Quatro anos depois, a fábrica já empregava mais de 100 trabalhadores e estendia-se a cinco oficinas e a quatro lojas (Plinval de Guillebon, 1985, p.85).
Dagoty beneficiou tremendamente do patrocínio da Imperatriz Josefina de Beauharnais (1763-1814), e a partir de dezembro de 1804 a fábrica ficou conhecida como Manufacture de S.M. l'Impératrice, P.L. Dagoty à Paris, uma marca que foi utilizada até 1813. Após a queda do Primeiro Império em 1814 e até 1820, foi reconhecida como Manufatura de H.R.H. a Duquesa de Angoulême. P.L. Dagoty.
Em termo de curiosidade, só no ano de 1806 a manufactura Dagoty vendeu mais de 350 mil francos em porcelana, e as suas criações foram exportadas para cortes aristocráticas europeias. É assim que se justifica a presença de uma serie de encomendadas realizadas no início do século XIX pela Grande Duquesa Elisa Baciocchi para a Villa di Marlia em Lucca, do qual se destaca um serviço de sobremesa que está preservado nas colecções do Pittii Palace em Florença.
No ano de 1816, Dagoty formou uma parceria com dois fabricantes de porcelana, François Maurice Honoré, e com Edouard Honoré e os resultados desta aliança foram admiráveis, pois produziram objetos de design requintados com luxuosos enfeites dourados.
As peças que agora trazemos são bons exemplos do trabalho elegante, variado nas formas e na decoração com um gosto definido e original pela aplicação do ouro (de Plinval de Guillebon 1985, 84).
No ano de 1810 Dagoty começou uma estreita colaboração com François Maurice Honoré, um fabricante de porcelana que havia fundado a sua própria manufactura ainda no século XVIII na rue de Chevreuse em Paris.
Após 1820, data do fim desta sociedade, Dagoty continuou a produzir nas suas próprias oficinas de Paris. No ano de 1823, quando se reformou, vendeu a fábrica a Dominique Denuelle.
No início do século XIX a porcelana Dagoty apresentava uma particularidade que a distinguia das outras fábricas de porcelanas. A sua produção dominava uma técnica que consistia em cobrir o interior dos objectos (nomeadamente as chávenas) com uma espessa pintura a ouro, enquanto as decorações exteriores eram ricamente decoradas com cores escuras, verde Império e decorações em vários tons de ouro. Esta técnica já era dominada pela manufactura Dihl e Gerhard, e não só destacava as peças como as tornava mais apelativas para a decoração das casas reais de toda a Europa, chegando a mesa do presidente dos Estados Unidos.
A título de exemplo sabemos que no ano de 1910 o Rei Jorge IV (1762-1830) do Reino Unido adquiriu um serviço de chá e de café, e que no ano de 1816 o presidente americano James Monroe (1758-1831) encomendou um serviço de jantar, de trinta peças, à Dagoty & Honoré.
Para além da Royal collection Trust e da White House as peças da porcelana Dagoty fazem parte da colecção de museus como Musée national de céramique de Sèvres, o Museo delle porcellane no palácio Pitti em Florença, o Museu do Malmaison e o Metropolitan Museum. No entanto, é no Lambert castle museum em Nova Jersey que encontramos peças idênticas aos lotes que agora trazemos para leilão.
O ESTILO IMPÉRIO
Recuando a meados do século XVIII, encontramos o desejo pelo retorno ao clássico na decoração Luís XV, com o Goût à la grecque, que acabou por se desenvolver no reinado de Luís XVI, e atingiu o seu modelo máximo no estilo Império (1803 a 1821), em muito desenvolvido pelo desenhador e arquiteto Charles Percier (1764–1838) e pelo seu colega Pierre François Léonard Fontaine (1762–1853).
Com grande inspiração na arte da antiga Roma imperial e na arte egipcia das conquistas napoleónicas, este mesmo dominou as artes decorativas europeias, em particular o mobiliário, a joalharia, o vestuário (Boulanger, 1960).
Um dos motivos que figura neste estilo decorativo é a Águia (associada ao imperador Napoleão). Por sua vez, o cisne aparece associado à Imperatriz Josefina. O amor e o interesse da imperatriz por cisnes é bem conhecido e para isso basta ver os motivos decorativos que introduziu nos seus aposentos no château de Malmaison, e no palácio de Fontainebleau. Além disso sabe-se que a imperatriz foi a primeira pessoa a ter sucesso a criar cisnes negros em cativeiro.
Além deste serviço de chá, onde as chávenas, o bule, a leiteira e o açucareiro ganham a forma de cisnes, no catálogo de desenhos da manufactura Dagoty, que figura no acervo do Victoria and Albert museum em Londres, observamos uma serie de desenhos de peças decoradas com cisnes.
Posto isto, podemos considerar que esta foi sem dúvida uma maneira de homenagem a Imperatriz, bem como uma forma de relembrar os clientes e concorrentes das conexões imperiais da manufactura Dagoty.
DECORAÇÃO DA PORCELANA EUROPEIA DO SÉC. XIX
Alexandre Brongniart (1770-1847), diretor artísticos da manufactura de Sèvres, considerava a porcelana como o melhor suporte para deixar para a posterioridade as melhores obras de pintura alguma vez feitas. Por isso é que no final do século XVIII e início do XIX surgem alguns exemplos onde a pintura de grandes mestres como Rembrandt ou Rubens são replicadas milimetricamente, através da gravura, para a porcelana. A título de exemplo temos três serviços de porcelana de Viena, provenientes da colecção real portuguesa, e que hoje se podem encontrar no acervo do Palácio Nacional da Ajuda e no acervo do Palácio Nacional de Queluz. Estes serviços de tête-à-tête para consumo de chocolate quente, surgem decorados com pinturas de Orazio Gentileschi (1563–1639), de Paul Peter Rubens (1577-1640) e de Philip James Loutherburg (1740-1812).
A arte de decorar a porcelana não se ficou apenas pela reprodução de afamadas pinturas dos grandes mestres, e deve-se destacar, também, a decoração com pinturas de pássaros, temas mitológicos e com paisagens. (Coutts, 2001)
Em conformidade com a pintura de pássaros e de flores, podemos encontrar nos finais do último quartel do século XVIII um interesse por uma representação científica e precisa de cada espécie. Uma vez que as manufaturas se preocupavam principalmente em fazer um retrato realista de um grupo restrito de espécies (a águia, o cisne, o papagaio, a coruja, e até mesmo da galinha). Simultaneamente, também se criavam pinturas com representações utópicas de pássaros que figuravam envoltos de excêntricas plumagens. (Boléo, 2014)
Por outro lado, temos os serviços pintados sobre a temática mitológica (considerada como um sinal de cultura e acima de tudo de estatuto social) e a temática paisagística. (Coutts, 2001) Esta última temática surgia dividida entre as paisagens imaginárias (subdivididas em estilo holandês ou italiano) e as paisagens reais (ou seja, o “retrato de paisagem” e as “vistas”). (Coutts, 2001)
BIBLIOGRAFIA:
AY-HALLÉ, Antoinette; MUNDT Barbara – Nineteenth-Century European Porcelain. London: Trefoil Books, 1983
BAYARD, Emile – L ́art de reconnaitre la céramique. Paris: Ernest Grnd, 1924
BLONDEL, Nicole – Céramique, vocabulaire technique. Paris: Éditions du patrimoine 2014
BOULANGER, Gisèle – L ́art de reconnaitre les styles. Paris: Hachette, 1960
COUTTS, Hoeard – The Art of Ceramics, European Ceramic Design 1500–1830. New York: Yale University Press, 2001
DANCKERT, Ludwig, Directory of European Porcelain, London, N.A.G. Press, 2004
PlINVAL de Guillebon, Régine de - Dagoty à Paris, la manufacture de porcelaine de L'Impératrice. Paris: Somogy Editions d'Art, 2006. Exhibition at the Château de Malmaison of more than 300 Dagoty pieces (2006-2007)
PlINVAL de Guillebon, Régine de - La porcelaine à Paris sous le Consulat et l'Empire: fabrication, commerce, étude topographique des immeubles ayant abrité des manufactures de porcelaine. Geneva: Droz, 1985, pp. 82-85
RODRIGUES, Tiago – Um pequeno tesouro do Palácio Nacional da Ajuda: Um tête-à-tête para Chocolate que pertenceu ao Infante D. Afonso, Duque do Porto in AA.VV – Artes decorativas, Artis On, Nº1, ARTIS-Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2015, pp.129-141
Leilão Terminado