420
Importante gargantilha
Estimativa
35.000 - 50.000
Sessão 1
14 Abril 2021
Valor de Martelo
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Em prata e ouro, séc. XIX
Composta por elos articulados cravejados com 44 diamantes em diversos talhes antigos de brilhante
com total (ca. 40ct) a maioria de cor J/K e diversas purezas, Vs1, Vs2, SI, P1
Pendente amovível cravejado com 3 diamantes em talhe de brilhante com total (ca. 0.65cy) e uma pérola cinza periforme
Sem marcas de contraste ao abrigo do Decreto-Lei 120/2017, Artº. 2, nº.2, alínea c
Comp.: 35,5 cm
44.9 g
Categoria
Jóias
Nota adicional
Por Eduardo Alves Marques
Investigador Colecções Reais
Existiam, nas coleções reais Portuguesas no tempo da monarquia, duas rivière de diamantes inventariadas. Uma delas ainda hoje se conserva no acervo da coleção de joalharia real, afeta ao acervo do Palácio Nacional da Ajuda.
“Rivière”: designação francesa para um colar ou pulseira, composto por fileiras de diamantes cuja luz e brilho fazem lembrar a limpidez da água da ribeira, sendo este nome encontrado na documentação, principalmente a partir o século XVIII, para designar esta tipologia de colar. Em Portugal, quer pelo valor pecuniário, quer pela raridade, não são muitas as famílias que possuíam esta peça.
Associadas à aristocracia e a grandes senhores, apenas eram usadas em ocasiões de grande solenidade, como é o caso de Bailes, Beija-mão e casamentos. Em cerimónias de representação de Estado, são conhecidas quer por fotografias, quer por reportagens de jornais da época, os retratos de duas soberanas portuguesas a usá-las: a rainha D. Maria Pia de Sabóia (1847-1911) e a rainha D. Amélia de Orleães (1865-1951). A 13 de Março de Março de 1872, o jornal Diário de Notícias publica mesmo a toilette da rainha Maria Pia, por ocasião da visita de D. Pedro II a Portugal. Num baile, no palácio da Ajuda, a rainha de Portugal apresentava-se em “vestido de cetim branco com grinaldas de flores, cauda de cetim azul com rendas brancas e no pescoço um largo afagador de diamantes”.
Esta rivière procede exatamente de uma família aristocrática portuguesa, cuja ligação ao serviço da casa real tem como génese a política e o serviço diplomático desde princípios da centúria de oitocentos. Não será difícil imaginar que a elite, ao copiar a casa real, se compare com ela, quer em gosto e moda, quer na frequência dos mesmos fornecedores cuja mestria e virtuosismo técnico exigiam um público diferenciado e rico. Ainda que raras, estas peças faziam parte de um gosto internacional difundido pelas casas reais europeias e disseminado pela aristocracia vigente, que passava, de geração em geração, esta peça de alto valor pecuniário.
A PÉROLA
Esta rivière passou a apresentar, porém, um pormenor ainda mais curioso, quando, alguém da referida família, lhe acrescenta, em finais do século XIX, um pingente. A pérola, cujo comprimento é de 1,7 cm, fazia parte de um par de brincos que tem três diamantes em talhe brilhante e que foi aqui colocado por um motivo sentimental. Não obstante, num colar tão valioso, o pingente não poderia ser sobrevalorizado.
Em forma de pera, e de grandes dimensões, lembremo-nos que as pérolas naturais, em grande moda, eram sinónimo de bom gosto e considerados elementos raros e valiosos desde o tempo romano quando, Júlio Cesar, conhecido pelas suas conquistas amorosas, ofereceu a Servília Cepião uma pérola no valor de seis milhões de sestércios. Quanto maior fosse a pérola, mais valiosa seria.
Conhecidas são as pérolas da rainha Maria Pia, que atingiram, no leilão das suas Jóias, realizado a 12 de Julho de 1912, pelo Banco de Portugal, valores astronómicos, como é o caso da sua pérola pera Pingente, que era enorme, e circundada por cinco diamantes. Seria comprada, nesse dia, pelo senhor Esmerian (um rico judeu comerciante de pedras preciosas), por 19.750 escudos.
Em Portugal, ao contrário dos mercados internacionais das grandes leiloeiras como Sotheby's e Christie’s, as pérolas naturais não são valorizadas pelo seu preço justo, sem que se faça um estudo exaustivo sobre os colares e pérolas do século XIX português.
A VERITAS apresenta uma soberba rivière de princípios do século XIX que, quer pela extravagância, quer por ser inusual a entrada em mercado desta tipologia, torna-a um ex-líbris do leilão de Abril.
O valor histórico, o valor pecuniário e a importância identitária fazem deste “conjunto” uma importante peça da joalharia nacional das elites de oitocentos.
Leilão Terminado