Leilão 143 Antiguidades e Obras de Arte, Pratas e Jóias

144

Galheteiro Jorge III por Paul Storr (1771-1844)


Estimativa

5.000 - 10.000


Sessão 1

21 Outubro 2024


Descrição

Composto por duas galhetas, uma mostardeira, um polvilhador e quatro frascos em cristal lapidado
Estrutura, gargalos e tampas em prata de 950/000
Decoração neoclássica e aplicação de monograma WEM
Marca de garantia da cidade de Londres (1807) e marca de ourives Paul Storr (reg. 1807)
(pequenos sinais de uso)

29,5x39,5x24 cm
1712 g (estrutura)


Categoria

Pratas


PAUL STORR “O ÚLTIMO DOS GRANDES OURIVES”

A ourivesaria inglesa teve um desenvolvimento moldado por eventos históricos e sociais tão diversos como a introdução do Protestantismo e a Guerra Civil. Estes episódios foram cruciais para a destruição de grande parte das peças de ourivesaria (principalmente a religiosa) produzida antes do século XVI. São os inventários da época que melhor atestam a existência de menções a um maior número de peças do que as que chegaram aos nossos dias. Durante o Renascimento a ourivesaria inglesa manteve uma identidade muito própria e preservou um elevado nível de qualidade, pelo que esse período foi marcado por uma crescente demanda por objetos de prata que serviam tanto para funções decorativas como utilitárias. No entanto, a partir do início do século XVII, como consequência das dificuldades políticas e económicas que o país enfrentava, observouse uma diminuição na qualidade das peças produzidas. Esta situação foi drasticamente revertida com a necessidade de reabastecer o tesouro real, após as perdas sofridas durante a Guerra Civil (16421651). Assim, com a restauração da monarquia (1660) a produção de ourivesaria em Inglaterra foi revitalizada. O mercado de prata inglês apresentava uma particularidade que o distinguia dos outros países. As grandes encomendas não eram exclusividade da Casa Real. Principalmente, a partir do século XVII, tanto a nobreza, como a burguesia, desempenhavam um papel crucial enquanto clientes de ourives. Este fenómeno foi visível principalmente a partir do século XVII quando a burguesia emergente começou a adquirir peças de prata, tanto para uso corriqueiro, como para ostentação do seu estatuto social. Um fenómeno que refletia uma maior acessibilidade a bens de luxo, impulsionada pelo aumento da riqueza comercial e pela expansão do império britânico. A revogação do Édito de Nantes (23 de outubro de 1685) pelo Rei Luís XIV de França foi outro evento crucial para a história da ourivesaria inglesa. Com a fuga de um número considerável de ourives huguenotes chegaram, às ilhas britânicas, novas técnicas e estilos que acabaram por modernizar o panorama artístico. Foi no seguimento deste contexto, de mudanças e influencias cruzadas, que se desenvolveu a vida e obra do ourives que realizou o objecto que agora trazemos a leilão Paul Storr (1771–1844) Paul Storr foi um dos mais importantes ourives ingleses do final do século XVIII e início do XIX. Conhecido pela sua habilidade técnica e liberdade criativa, começou a sua formação como aprendiz do prateiro sueco Andrew Fogelberg, que operava no número 30 Church Street em Soho. No ano de 1792, Storr completou a sua aprendizagem e obteve a sua “liberdade”. Nesse mesmo ano formou parceria com William Frisbee, tendo registado a marca conjunta "WF sobre PS", com sede no número 5 Cock Lane em Snowhill. No entanto, esta parceria foi de curta duração. A 12 de janeiro de 1793 registou a sua própria marca "PS" e voltou à morada na Church Street em Soho. Esta marca seria mantida, com poucas modificações, até ao ano de 1838. No ano de 1796, mudou a sua oficina para a Air Street em Piccadilly e foi aqui que rapidamente começou a ganhar reconhecimento entre a burguesia e a aristocracia britânica, através da produção de artigos de luxo, como taças, vasos e refrescadores de vinho. Foi neste momento que se estabeleceu como um dos principais ourives da cidade de Londres do seu tempo. A sua habilidade acabou por chamar a atenção do influente joalheiro Philip Rundell que o persuadiu a trabalhar na sua manufatura. Deste modo, em 1807 mudou-se para a Dean Street em Soho, onde fundou a "Storr & Co", mantendo a sua identidade criativa, apesar de estar vinculado a Rundell. Porém, esta parceria limitou a sua autonomia, e para atender às encomendas da realeza e da nobreza, rapidamente acabou por ficar envolvido na supervisão de uma produção em serie. Em contrapartida, em muitas das peças importantes, a inscrição "Rundell, Bridge et Rundell Aurifices Regis Londini Fecerunt" (Feito por Rundell, Bridge e Rundell, Ourives do Rei de Londres) ofuscava o apelido de Storr. E, foi este continuo e crescente controlo sobre o seu trabalho que o levou a encerrar a firma no ano de 1819. Numa busca pela sua independência e criatividade artística, no ano de 1822 Storr abriu uma nova oficina e loja. Foi nesta altura que produziu uma das mais importantes e encomendas de sua carreira: um serviço completo para 180 pessoas, encomendado por Henrique Teixeira de Sampaio (1774-1833), um diplomata e comerciante português, 1º conde da Póvoa. Esse serviço, que incluía um magnífico par de candelabros centrais, é considerado uma das produções mais elaboradas e importantes da sua nova oficina. Os candelabros, que formavam o ponto principal do serviço, são uma das obras mais espetaculares de Storr, demonstrando a sua imaginação e a habilidade artistica. É desta época a sua parceria com John Mortimer que lhe permitiu abrir um showroom no West End de Londres, um local estratégico para a exibição e venda das suas criações a uma clientela de elite. Mortimer era o responsável pela gestão comercial do negócio, enquanto Paul Storr ficava encarregue da produção. Em 1826, um terceiro sócio, John Samuel Hunt, sobrinho de Storr, juntou-se à empresa, que passou a denominar-se "Mortimer & Hunt". Após 1838, foi reestruturada como "Hunt & Roskell", mas ainda usava o prestigiado nome "Storr & Mortimer". A obra de Paul Storr Estamos perante uma produção artística amplamente reconhecida pela capacidade de combinar funcionalidade e arte, um equilíbrio que permite considerá-lo como o último grande ourives da sua época. O seu domínio técnico e a sua sensibilidade estética permitiram a criação de peças que não só atendiam às exigências práticas do quotidiano, como também serviam como símbolos de estatuto e de poder. Storr conseguia transformar objetos utilitários, como cafeteiras e salvas, em verdadeiras obras de arte, ornamentadas com motivos clássicos, góticos ou rococós, conforme o gosto dos seus clientes. Um exemplo dessa versatilidade estilística pode ser encontrado nas peças da sua autoria exibidas na colecção da Casa-Museu Medeiros e Almeida, em Lisboa. As peças de Paul Storr são hoje preservadas em algumas das mais importantes coleções do mundo, incluindo a Royal Collection Trust. Entre essas peças, destacam-se candelabros, taças cerimoniais e salvas, que demonstram o nível de sofisticação alcançado pelo ourives. A sua importância para a história da ourivesaria inglesa é incontestável, e ele não só influenciou profundamente os seus contemporâneos como também deixou um legado duradouro. A sua produção reflete a confluência de tradições artísticas europeias com a identidade única da prata inglesa, marcada por um rigor técnico e uma atenção ao detalhe que o distinguiram dos seus pares. A sua capacidade de se adaptar às mudanças estilísticas do seu tempo, sem perder de vista a funcionalidade e a elegância, tornou-o num dos maiores nomes da ourivesaria europeia. A trajetória de Paul Storr, marcada por uma busca constante pela excelência e independência artística, consolidou o seu legado como um dos maiores ourives da história britânica do qual o lote que agora trazemos a leilão é um exemplo pela suas dimensões e linhas clássicas, típicas do gosto da primeira década do século XIX.

TIAGO FRANCO RODRIGUES



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