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Cristo atado à coluna

Cristóvão de Figueiredo Attrib. (?-1543)


Estimativa

6.000 - 10.000


Sessão 1

29 Junho 2021



Descrição

Óleo sobre madeira

50x12 cm


Categoria

Pintura


Informação Adicional

A atribuição de uma pintura a Cristóvão de Figueiredo é particularmente difícil, visto não existirem dados documentais que o permitam fazer com segurança. Sabemos que Figueiredo fez um grande retábulo para a igreja de Santa Cruz de Coimbra, arrastando a sua execução ao longo de toda a década de 20 do século XVI. Felizmente, boa parte desse retábulo existe ainda, conservando-se as suas tábuas distribuídas pela própria igreja de Santa Cruz e por instituições públicas, como o Museu Machado de Castro em Coimbra e o Museu Nacional de Arte Antiga onde, neste último, avulta uma das mais belas obras da sua oficina, a Deposição no Túmulo. As palavras do grande estudioso da produção pictórica dos “primitivos Portugueses”, Joaquim Oliveira Caetano, resumem com clareza a importância desta pintura. Diz o autor que “Nem antes nem depois dos grandes quadros de Coimbra a sua obra é de atribuição segura, mas bastam estes, de que a Deposição no Túmulo é o melhor exemplo, e talvez uma das que está em melhor estado, para descobrirmos um mestre cimeiro da pintura portuguesa, capaz de criar um sentimentalismo profundo quer no drama, quer na serenidade,de articular com precisão o adereço,a figura e a paisagem, e de uma capacidade de retratar que evoca a longínqua arte de Nuno Gonçalves, na severidade serena e complexidade interior.”
Sabemos que Figueiredo, para além das grandes empreitadas em que trabalhou em parceria, como a famosa da igreja de Ferreirim, e depois, já com autonomia autoral recebendo grandes encomendas, como a referida de Santa Cruz, continuou a fornecer composições em desenho para outros pintores e até desenhando cartões destinados a tapeçarias, como as que fez para Tomar. Para além disto a sua oficina, verdadeiramente laboriosa, encarregou-se, ao que parece, de produzir pequenas obras de carácter devocional adequadas a uma forma de espiritualidade vigente na época, conhecida como Devotio Moderna. Diz-nos o referido autor, seu estudioso: “A existência de pequenos trípticos portáteis da Paixão, inteiros ou separados (...), mostram também que forneceu modelos ou criou na sua oficina obras para um mercado devocional menos dependente da grande encomenda e, provavelmente, à maneira do que acontecia nas cidades flamengas, destinados a uma venda livre.”
É exactamente uma destas obras que a Veritas leva agora a leilão. Trata-se de um volante de um pequeno tríptico para uso doméstico, incluído num oratório. A pintura, adequada à circunstância dos crentes que se deparavam perante Cristo nos momentos que antecederam o Seu martírio, permitia quase experimentar o sofrimento e agruras da Paixão do Salvador. Naturalmente o quadro tinha de ter o tom dramático e pungente que transmitisse realisticamente essa experiencia e é isso que Cristovão de Figueiredo nos dá nesta pequena tábua. O corpo esquálido de Cristo descai pelo peso do sofrimento sustentado apenas pela segura coluna que marca a composição de forma decisiva de alto a baixo da pintura. Embora, como é hábito noutras obras do mesmo género deste autor, não estejam representados os verdugos que flagelaram o Redentor, podemos adivinhar os castigos sofridos pelos rasgões sangrentos que se desenham na Sua pele. Nestes detalhes se marcam também os traços da obra característica de Figueiredo.
Anísio Franco



Leilão Terminado