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Círculo de José de Ribera, Lo Spagnoletto (1591-1652)


Estimativa

30.000 - 50.000


Sessão

27 Junho 2013



Descrição

S. Paulo
Óleo sobre tela
Séc. XVII
127,5x102,5 cm


Categoria

Pintura


Informação Adicional

O São Paulo da colecção Alpoim Calvão foi já atribuído ao grande mestre da pintura tenebrista José Ribera, contudo não consta do elenco de obras deste artista. O inusitado surgimento desta pintura é tanto mais surpreendente quando sabemos que a sua laboriosa oficina repetia os modelos criados pelo mestre e não consta do corpus da obra completa do mestre nenhuma pintura que tenha como base esta composição. De facto Ribera representou várias vezes São Paulo, quer em séries de apostolados quer como par natural de São Pedro, como simbólicos pilares da Igreja. Assim acontece com o São Pedro hoje pertencente ao Museu Nacional de Arte Antiga e que foi da colecção de George Demotte que deveria fazer pandant com um São Paulo idêntico ao da Pinacoteca Comunal de Perugia. Lamentavelmente nada sabemos sobre o percurso do São Paulo da colecção Calvão, pelo que não podemos afirmar seguramente que ele teria um par, todavia a posição em que santo está representado voltado para a direita ocupando a mancha pictórica toda a área direita da composição faz suspeitar que esta pintura estaria em confronto com outra personagem que como é natural só encontra paralelo, em termos de importância iconográfica, em São Pedro.

A rudeza do tipo humano da figura de São Paulo inspirado em modelo real, bem como os largos panejamentos que envolvem o seu corpo são características da pintura do mestre nascido em Espanha. No entanto estas são também marcas de toda a pintura tenebrista que disseminou os modelos de Caravaggio a partir do primeiro quartel do século XVII. Sabe-se hoje que Ribera foi não só um dos máximos expoentes do desenvolvimento e difusão da arte de Caravaggio, senão justamente um dos seus principais renovadores. Importa, portanto, enquadrar esta obra na produção criativa de Ribera sem contudo esquecer que desde que este mestre se fixou em Nápoles em 1616 marcou profundamente toda a produção artística do sul de Itália que tinha esgotado as soluções de acentuado naturalismo deixadas pela lição de Caravaggio e se encaminhava agora para uma revisão desse projecto. Pintores como Giovan Batista Caracciolo, Filippo Vitale, Aniello Falcone ou Paolo Finoglio seguiram de perto a produção de Ribera e imitaram os seus modelos bem como a sua concepção espacial e composições criadas pelo valenciano.

Estudos mais profundos sobre esta obra poderão revelar novas pistas e acrescentar algum conhecimento conducente a conclusões mais concretas. No estado actual dos conhecimentos não podemos deixar de considerar esta obra como uma bela pintura que se deverá incluir no círculo criativo de Ribera sendo pouco comum surgir no mercado nacional este tipo de obra de arte.
Anísio Franco



Leilão Terminado