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Ressurreição

Diogo de Contreiras (1500-1565)


Estimativa

60.000 - 80.000


Sessão

27 Junho 2013



Descrição

Óleo sobre madeira de carvalho
136x90 cm


Categoria

Pintura


Informação Adicional

Nota: Faz parte de um tríptico pertencente ao Convento de Santa Maria de Almoster. Um dos retábulos estará assinado e datado.
Bibliografia: Francisco Faria Paulino (coord.), "A Pintura Maneirista em Portugal - Arte no Tempo de Camões", p. 195.

Prov. Convento de Almoster

É bem provável que tenha sido D. Gil Eanes da Costa que encomendou, para ornato da sua capela tumular no convento de Almoster, um retábulo ao pintor Diogo de Contreiras, quando, em 1542, firmou um contrato com as freiras bernardas deste convento para que aí se instituísse a sua última morada. Sabemos que o retábulo que Diogo Contreiras pintou, entre 1542 e 1545, para este convento ainda aí se encontrava em 1949, pois consta do Inventário Artístico de Portugal do distrito de Santarém que a Academia Nacional de Belas Artes mandou fazer a Gustavo de Matos Sequeira. Gil Eanes da Costa foi personagem bem conhecida da Lisboa do século XVI e tornou-se proverbial a sua capacidade de fazer e de poupar dinheiro. Depois de ter sido deserdado por seu pai juntou uma descomunal fortuna que alguns diziam ser muito superior à do próprio Estado. Mas ele não fazia alarde disso e pelo contrário o seu comportamento público era comentado porque um dia estando a trabalhar na fazenda pública indagando se a sua mula já tinha chegado para o levar para casa lhe disseram que não e este teria retorquido que com toda a certeza estaria ainda a fazer os trabalhos domésticos levando lenha para sua casa. Ora, para um fidalgo desses tempos já era estranho fazer-se deslocar numa mula e não num cavalo e mais ainda que essa montada servisse também para as actividades domésticas. Enfim, exemplos de contenção de despesas que bem poderiam servir para outros tempos.

A verdade é que para a salvação da sua alma e sua eterna memória Gil Eanes parece não ter poupado esforços nem cabedais já que mandou fazer um belo retábulo ao mais importante pintor de meados do século XVI em Portugal, Diogo de Contreiras. É exactamente uma das tábuas pintadas desse retábulo que vai agora a leilão. Trata-se da Ressurreição de Cristo. Nesta obra o pintor segue o modelo de Cristo de pé sobre o túmulo, que utilizará também mais tarde, por volta de 1555, em Atouguia da Baleia, colocando a arca tumular, meia encerrada e com lavores romanos na face visível, em perspectiva, e um poderoso soldado em primeiro plano, ocupando todo o canto inferior direito do painel. Com sublinha Joaquim Caetano, o resultado é um enorme alongamento do espaço pictural, prolongado por um belíssimo fundo de paisagem, onde se podem ver à esquerda e à direita duas cenas complementares, respectivamente a S. João e as Santas Mulheres visitando o Túmulo e a Aparição de Cristo a Madalena. Os três soldados acumulam-se no canto do quadro. Um deles completamente de costas para o espectador (um artifício típico de Contreiras) deixa ver apenas o casco, outro de perfil empunha uma albarda, e o mais proeminente revela sobretudo os ricos trajos militares, cota de armas à romana, capacete requintado e uma bela espada de guarda dourada. Esta colocação abre o painel para o fundo de paisagem e reforça a dignificação da figura de Cristo, jovem e quase franzino, ostentando numa cruz goticizante o estandarte com cruz, ao modo da ordem militar de Tomar, de que D. Gil Eanes, por sinal, era comendador. De dominante de belos verdes azulados, o quadro é pontuado, à maneira típica de Contreiras, por pontos e manchas de um vermelho intenso, nas roupagens de Cristo, na caneleira do soldado em primeiro plano, na capa do mais distante e na figura de S. João ao fundo à esquerda, mostrando a elegância e contenção do cromatismo do pintor. Contreiras é capaz da pincelada mais livre e expressiva, como na utilização dos brancos sobre azuis na paisagem, e ao mesmo tempo da aplicação quase imaterial das tintas, homogéneas e lisas, em rigorosos exercícios, como na tampa do túmulo, no belo cesto de frutas à esquerda, ou nas carnações das pernas do soldado em primeiro plano, evidenciando uma qualidade de recursos verdadeiramente notável.

Esta notável obra de arte está agora à disposição de coleccionadores e interessados que queiram enriquecer o seu espólio artístico num investimento que lhes trará mais-valias seguras e acima de tudo um verdadeiro deleite estético que é o principal objectivo dos amantes do belo.
Anísio Franco



Leilão Terminado