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Armário baixo estilo Luís XV
Maison Krieger
Estimativa
10.000 - 12.000
Sessão 2
6 Junho 2023
Valor de Martelo
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Em madeira de carvalho
Decoração com trabalho de marchetaria pau-rosa, pau-cetim e outras madeiras
Aplicações em bronze dourado representando motivos vegetalistas
Com uma gaveta, uma porta e interior com prateleiras
Tampo em pedra mármore
Assente em quatro pernas a terminar em pata de leão
Marcada nas costas"Krieger, 74 Faubourg Saint-Antoine, Paris" e marcada na fechadura
França, sc. 1880
(pequenos sinais de uso)
110x131x48 cm
Categoria
Mobiliário
O MOBILIÁRIO FRANCÊS DO SÉCULO XIX
A segunda metade do século XIX é, indiscutivelmente, o período em que as artes decorativas refletem o gosto pelo revivalismo, pela fusão de estilos e pelo colecionismo. Numa época em que a sociedade vivia de olhos postos no passado, os grandes mestres dos séculos anteriores foram reinterpretados pelos artistas, justificando-se o aparecimento de cópias e réplicas que na contemporaneidade eram entendidas como verdadeiras obras de arte.
A glória dos tempos áureos de Versalhes renascia nas artes decorativas e em particular no mobiliário, sendo este inspirado nas linhas artísticas que vigoraram nos reinados de Luís XIV, Luís XV e Luís XVI, valorizando o trabalho dos grandes ebanistas como André-Charles Boulle (1642- 1732), Jean-François Oeben (1721-1763) ou Jean-Henri Riesener (1734 - 1806).
Na década de 1860, na cidade de Paris, registava-se um aumento de artífices de mobiliário, sendo cerca de 2,000 os ebanistas que se ocupavam da produção de mobiliário de luxo. Um número que contrastava com os cerca de 14,500 artífices que se ocupavam da produção de mobiliário de menor qualidade.
Tal como já havia acontecido no século XVIII, os ebanistas encontravam-se entre os artífices privilegiados de Paris, tendo a seu cargo a elaboração de móveis de excelente qualidade destinados, normalmente, para a casa imperial francesa e demais casas reais europeias, nomeadamente a portuguesa sendo exemplo disso os móveis de autor que podemos encontrar no acervo do Palácio Nacional da Ajuda em Lisboa.
Tiago Franco Rodrigues
Bibliografia:
PAYNE, Christopher, 19thCentury European Furniture, Antique Collectors ́Club 1985;
RODRIGUES, Tiago, The furniture of Maison Krieger at art auction: A fine vitrine in Louis XV style sold by Veritas at Lisbon, ArtisOn, no5, Lisboa, ARTIS-IHA/FLUL, 2017;
VERLET, Pierre, Le mobilier royal français du XVIIIe siècle. IV – Meubles de la Couronne conservés en Europe et aux États-Unis, Paris, Editions Picard, 1990;
VERLET, Pierre, Les ébénistes du XVIII siècle français, Paris, Hachette, 1963;
VERLET, Pierre, Les meubles français du XVIII siècle, 2o edição, Paris, Presses Universitaire de France, 1982.
Maison Krieger
A Maison Krieger foi, para além de uma das mais conceituadas casas de mobiliário da segunda metade do século XIX, a reminiscência do trabalho do ebanista Antoine Krieger (1804 -1869) que, no ano de 1826, se estabeleceu com o irmão Nicolas Krieger em Paris, no número 17 da Rua de Saint-Nicolas em Faubourg Sainte-Antoine.
Depois de várias mudanças de morada, foi no ano de 1850 (e já segundo a estampilha Antoine Krieger & Cie) que a oficina passa a estar estabelecida no número 76 da mesma rua.
Tendo participado nas grandes exposições da 2ª metade do século XIX, destaca-se a Exposição de Londres de 1851 onde obteve uma medalha de 2º classe e, a Exposição Nova Iorque, em 1853, na qual apresentou um móvel com painéis entalhados onde figuravam medalhões esculpidos com a representação da caça ao veado e falcoaria da idade média.
Com a morte de Antoine Krieger, em 1856, a sua oficina foi entregue aos genros Claude-Julien Cosse e Henry Racault que continuaram o seu trabalho e linha artística, apesar de a casa funcionar como uma cooperativa, com o nome e respetiva estampilha alterados para Cosse-Racault et Cie (Ledoux-Lebard 1984, 390).
Quatro anos depois surge uma nova alteração no nome da casa e nas referidas estampilhas que recuperam o nome do seu fundador, passando a designar-se A. Krieger et Cie ou A. Racault et Cie. Já partir de 1880 temos as estampilhas apensas no mobiliário Damon et Cie e também as estampilhas “M(ais)on Krieger Ameublement Paris” (Ledoux-Lebard 1984).
Nas peças produzidas na primeira década de 1900 encontramos a estampilha DUVIVIER PARIS 77 FG-ST ANTOINE associada à Maison Krieger. Isto evidencia que a mesma continuou a produzir ainda nos inícios do século XX, encontrando-se sediada no número 77 da rua Faubourg-Saint-Antoine, em Paris.
Sendo uma das maiores e melhores lojas/casas de mobiliário da cidade de Paris do século XIX, esta exibia e criava peças nos mais variados estilos. Aí se encontravam cópias do século anterior, como interpretações das épocas Luís XV e XVI. Contemporaneamente, desenvolve-se uma criatividade artística própria do século, baseada num hibridismo das artes do passado, denominado estilo Napoleão III.
Com produção realizada até aos inícios da década de 1920, o trabalho da Maison Krieger figurou na Exposição Universal de 1900, onde François Linke (1855-1946) atingiu o sucesso – servindo de exemplo o móvel de aparato (Inv. FMA9) que a Casa-Museu Medeiros e Almeida apresenta no seu acervo. Já a presença da estampilha da Maison Krieger, que por vezes pode ser encontrada nos móveis da autoria de François Linke, justifica-se pelo facto de este ter sido fornecedor da mesma (Ledoux-Lebard 1984, 396).
Tiago Franco Rodrigues
Bibliografia:
PAYNE, Christopher – 19th Century European Furniture. Antique Collectors ́Club,1985
RODRIGUES, Tiago – The furniture of Maison Krieger at art auction: A fine vitrine in Louis XV style sold by Veritas at Lisbon, ArtisOn, no5, Lisboa, ARTIS-IHA/FLUL, 2017;
Leilão Terminado